Em 2025, comemoram-se os 200 anos de relações entre o Brasil e a França, data celebrada pela realização da temporada Brasil França 2025, com mais de 300 eventos em cerca de 50 cidades francesas. A música clássica nacional estará presente com a participação do Musica Brasilis em espetáculos, conferência, exposição e edições musicais, com ênfase no lundu, gênero brasileiro que tem origem na dança popular introduzida no Brasil pelos escravos vindos de Angola no século XVIII. A fusão de elementos oriundos das culturas africana, portuguesa e espanhola promoveu o seu ritmo sincopado na origem de gêneros tipicamente brasileiros, como o maxixe, o choro e o samba.
“A síncope do lundu é a mesma que se encontra no choro, no samba e em tantos outros estilos de música brasileira”, revela a pesquisadora e coordenadora Rosana Lanzelotte. “Influenciou grandes mestres, como Henrique Alves de Mesquita, Chiquinha Gonzaga e Ernesto Nazareth, todos presentes nos programas que concebemos… Para além de realizar os espetáculos, o portal Musica Brasilis disponibiliza gratuitamente todas as partituras das obras apresentadas”.
Na França, o lundu brasileiro será apresentado em dois recitais: no dia 17 de maio, no Chateau D’Arcanges, região de Bordeau, por Rosana Lanzelotte (cravo) e Clea Galhano (flautas doces); e no dia 12 de junho, na Bibliothèque de l’Arsenal (Paris), por Julien Chauvin (violino), Olivier Baumont (cravo), Paulo Aragão (violão) e Rosana Lanzelotte (pianoforte).
Já no dia 16 de maio, na Universidade Sorbonne, a pesquisadora Rosana Lanzelotte participará da conferência Debret e a música dos escravizados, como parte do colóquio France-Brésil, parcours musicaux, sociaux, historiques et culturels. Responsável por sua trilha sonora, o Musica Brasilis também irá participar da exposição Brasil Ilustrado, no Maison de l’Amérique Latine (Paris), de 30 de abril a 04 de outubro. Organizada pelo pesquisador Jacques Leenhardt, a mostra terá como tema a obra de Jean-Baptiste Debret, que viveu no Rio de Janeiro entre 1816 e 1831, e foi um dos principais cronistas da música tocada pelos escravos africanos, representados com os seus instrumentos em suas aquarelas e gravuras. A trilha sonora da exposição será idealizada pelo compositor Caito Marcondes, a partir, dentre outras referências, dos cantos tupinambás anotados por Jean de Léry durante a sua estada no Rio de Janeiro no século XVI.
O Música Brasilis também participou diretamente nas edições de repertórios emblemáticos dos intercâmbios entre França e Brasil, como as obras de Sigismund Neukomm compostas no Rio de Janeiro e pertencentes ao acervo da Bibliothèque nationale de France – incluindo a primeira obra clássica inspirada em um lundu, O Amor Brasileiro. Outra edição que merece destaque foi a de Tragipoèmes, de Jacques d’Avray (1870-1958), musicados por três grandes compositores brasileiros: Henrique Oswald, Alberto Nepomuceno e Francisco Braga. Outras obras em domínio público representativas do intercâmbio França/Brasil serão oferecidas gratuitamente através do portal Musica Brasilis.
O portal foi idealizado há 20 anos por ocasião do primeiro ano do Brasil na França. Naquele momento, em 2005, orquestras francesas intencionaram tocar repertórios sinfônicos brasileiros para além de Villa-Lobos, bastante conhecido por ter as obras publicadas pela editora francesa Max Eschig. A dificuldade de acesso às partituras, entretanto, foi um empecilho. Essa foi a motivação para a criação, em 2009, do Musica Brasilis, idealizado pela doutora em Informática e musicista Rosana Lanzelotte.
A principal iniciativa do Instituto, o portal Musica Brasilis (https://musicabrasilis.org.br/), oferece mais de 6.500 partituras, das quais 85% em domínio público e gratuitas. Esse marco foi alcançado graças ao projeto Acervo Digital de Partituras Brasileiras, em curso até agosto de 2025, cujo objetivo consistiu na disponibilidade de 5 mil partituras de compositores brasileiros em domínio público. O projeto conta com o patrocínio do Instituto Cultural Vale, apoio financeiro do BNDES, através da Lei Federal de Incentivo à Cultura, com realização do Ministério da Cultura e Governo Federal. Desde então, o portal Musica Brasilis se estabeleceu como referência, e recebe mais de 60 mil acessos por mês de usuários de todas as partes do mundo.
Foto: Fernando Frazão (na foto, Rosana Lanzelotte).