Conhecido como um drama jocoso, fruto da parceria profícua entre Wolfgang Amadeus Mozart e o libretista Lorenzo da Ponte, a ópera Don Giovanni retorna ao palco do Theatro Municipal de São Paulo. Com direção cênica de Hugo Possolo, conhecido por sua assinatura como mestre do picadeiro, e direção musical de Roberto Minczuk, regente titular que da Orquestra Sinfônica Municipal, a produção terá participação do Coro Lírico Municipal, preparado por Hernán Sánchez Arteaga. A obra será apresentada em sete récitas, nos dias 02, 03, 04, 06, 07, 09 e 10 de maio. A classificação é não recomendada para menores de 12 anos, a duração aproximada será de 190 minutos (com intervalo), e ingressos variam entre R$ 33 e R$ 210 (inteira).
Em Don Giovanni, o “libertino declarado que não oculta sua imoralidade”, como definiu o filósofo Mladen Dolar, temos um protagonista que vive em uma saga de seduções frustradas e acertos de contas com o seu passado. Essa trama construída por da Ponte remonta a histórias anteriores de autores como Tirso de Molina, G. Bertati e Molière, o último responsável por Dom Juan, ou Le Festin de Pierre, de 1665.
O impacto do escritor de Don Juan será a inspiração mais direta para a nova montagem do Theatro Municipal. “Molière é fundamental para essa e todas as suas versões. Ele próprio já é crítico à postura do protagonista. Em da Ponte e Mozart acaba sendo um pouco mais controverso. Mas uma abordagem com o humor do Molière foi o que mais me interessou. É um retorno à origem”, explica o diretor cênico Hugo Possolo.
Quando estreou em Praga, em outubro de 1787, Don Giovanni foi aclamada pelo público e pela crítica. Além do texto afiado, a obra recebeu destaque pelo modo como Mozart cria camadas de expressão dramática com recursos musicais únicos. Entre os destaques, a célebre ária do catálogo de conquistas, entoada por Leporello, e a celebração hedonista de Don Giovanni em Fin ch’han dal vino, além das árias das protagonistas femininas: Mi tradì quell’alma ingrata, por Donna Elvira, Vedrai, carino, cantada por Zerlina, e Or sai chi l’onore, interpretada pela personagem Donna Anna.
Nos dias 02, 04, 07 e 10 de maio, o elenco será composto por Hernán Iturralde (Don Giovanni), Camila Provenzale (Donna Anna), Anibal Mancini (Don Ottavio), Luisa Francesconi (Donna Elvira), Michel de Souza (Leporello), Carla Cottini (Zerlina), Savio Sperandio (Comendador) e Fellipe Oliveira (Masetto). Já nos dias 03, 06 e 09 de maio, os intérpretes serão Homero Velho (Don Giovanni), Ludmilla Bauerfeldt (Donna Anna), Jabez Lima (Don Ottavio), Monique Galvão (Donna Elvira), Saulo Javan (Leporello), Raquel Paulin (Zerlina), Sérgio Righini (Comendador) e Rogério Nunes (Masetto).
Nesta montagem, para além da amoralidade com que o protagonista trata a paixão, estarão centrais em cena as mulheres: Donna Anna, uma figura romântica que acredita em Don Giovanni; Donna Elvira, que promete vingança, mas fica presa ao protagonista; e Zerlina, personagem de origem popular que é “enfrentativa”. Essas personagens revelarão uma força singular que tanto desafia quanto enquadra Don Giovanni.
“Há algo tragicamente patético na figura quase arquetípica do conquistador serial, seja ele o Casanova histórico (contemporâneo e amigo de Lorenzo da Ponte, libretista da ópera) ou o Don Juan da ficção, criado pelo espanhol Tirso de Molina no início do século XVII. Pelas mãos de Hugo Possolo, Piero Schlochauer, Vera Hamburger, Elisa Faulhaber, Miló Martins e outros integrantes da equipe criativa, Don Giovanni escapa das chamas do inferno, mas não da punição terrena”, explica a superintendente geral do Complexo Theatro Municipal, Andrea Caruso Saturnino.
Para o diretor cênico Hugo Possolo, Don Giovanni tem um protagonista que permite um paralelo direto com os “poderosos machistas, que nos mostram que evoluímos muito pouco”. A ópera ressalta como nuances cômicas contrastam com as tragédias reais, ganhando uma versão em parte em português, em parte no original italiano, que busca dialogar diretamente com o público e expor, com ironia e crítica, o fracasso do patriarcado.
“A palavra ópera quer dizer uma obra que reúne várias linguagens, como drama e música, além de abrir espaço para outras linguagens da arte cênica como o circo”, explica o diretor Hugo Possolo. “Foi muito natural trazer esses elementos festivos e de espetacularidade que combinam com o espírito da criação de Mozart. A dupla Don Giovanni e Leporello tem a ver com as duplas cômicas, que permitem uma linguagem popular mais acessível”, pontua.
Além disso, a obra contará com trechos recitativos em português. O diretor explica que essa decisão foi tomada a partir de uma abordagem que já foi feita em óperas de diversas línguas e em várias montagens ao redor do mundo. “Optamos por um diálogo direto e teatral. Como venho do teatro popular, essa linguagem mais direta pode deixar a história mais evidente para o público. A ópera não é elitista, tem que ser para todos”, finaliza.
Uma obra incontornável
Segundo dados do OperaBase, Don Giovanni está entre as dez óperas mais apresentadas no mundo. Seu tema e seus personagens foram de grande impacto para a cultura, inspirando diversos escritores e filósofos. A obra teve a sua primeira montagem em São Paulo em 1956, como parte das comemorações do bicentenário de Mozart.
Depois disso, Don Giovanni só voltou a ser apresentada no Theatro Municipal de São Paulo nos anos 1990. Nessa década, aconteceram três montagens diferentes da ópera: em agosto de 1992, em montagem dirigida por Bia Lessa, cuja estreia aconteceu em Fortaleza em janeiro do mesmo ano; em 1995, com direção cênica da italiana Maria Francesca Siciliani, direção musical e regência do maestro Isaac Karabtchesvsky, cenografia de J. C. Serroni e figurinos alugados do Teatro Colón, de Buenos Aires; por fim, em 1999, numa montagem que reuniu a Orquestra Experimental de Repertório, regida pelo maestro Jamil Maluf, e o Coro Lírico Municipal.
A montagem mais recente do drama jocoso mozartiano no palco do Theatro Municipal de São Paulo aconteceu em 2013. O espetáculo foi trazido do Teatro Municipal de Santiago do Chile, e foi dirigido por Pier Francesco Maestrini. Contou com a Orquestra Municipal de São Paulo, sob a regência do maestro Yoram David, e com o Coral Paulistano, sob a regência de Bruno Greco Facio. Nessa montagem, a proposta do diretor foi levar Don Giovanni e Drácula ao palco, traçando paralelos entre os dois personagens a partir do ensaio publicado pelo escritor e musicólogo Alessandro Baricco, intitulado Drácula, Sósia de Don Giovanni. Os cenários de Juan Guillermo Nova e os figurinos de Luca dall’Alpi contribuíram para criar o clima sombrio da montagem.
PROGRAMA E SERVIÇO
Theatro Municipal de São Paulo
Don Giovanni
Drama jocoso em dois atos, de Wolfgang Amadeus Mozart sobre libreto de Lorenzo da Ponte
Coro Lírico Municipal
Orquestra Sinfônica Municipal
Direção musical: Roberto Minczuk
Direção cênica: Hugo Possolo
Regente do coro: Hernán Sánchez Arteaga
Cenografia: Vera Hamburger
Figurinos: Elisa Faulhaber
Iluminação: Miló Martins
Coreografia: Jorge Garcia
Visagismo: Westerley Dornellas
Elencos:
Dias 02, 04, 07 e 10 de maio
Don Giovanni: Hernán Iturralde, baixo-barítono
Donna Anna: Camila Provenzale, soprano
Don Ottavio: Anibal Mancini, tenor
Donna Elvira: Luisa Francesconi, mezzosoprano
Leporello: Michel de Souza, barítono
Zerlina: Carla Cottini, soprano
Comendador: Savio Sperandio, baixo
Masetto: Fellipe Oliveira, barítono
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Dias 03, 06 e 09 de maio
Don Giovanni: Homero Velho, barítono
Donna Anna: Ludmilla Bauerfeldt, soprano
Don Ottavio: Jabez Lima, tenor
Donna Elvira: Monique Galvão, mezzosoprano
Leporello: Saulo Javan, baixo
Zerlina: Raquel Paulin, soprano
Comendador: Sérgio Righini, baixo
Masetto: Rogério Nunes, barítono
Récitas: 02 (sexta), 06 (terça), 07 (quarta) e 09 (sexta) de maio, às 20h / 03 (sábado), 04 (domingo) e 10 (sábado) de maio, às 17h
Ingressos: de R$ 33 a R$ 210 (inteira)
Classificação: não recomendado para menores de 12 anos (pode conter histórias de agressão física, insinuação de consumo de drogas e insinuação leve de sexo)
Duração aproximada: 190 minutos (com intervalo)
Texto enviado pelo TMSP.
Foto: montagem com fotos de Stig de Lavor (Hugo Possolo) e de Larissa Paz (Roberto Minczuk).