A ópera é para ser vivida!

Rádio Cultura FM, de São Paulo, anuncia fim repentino do programa “BRAVO!

Foi com surpresa e tristeza que os amantes da ópera de São Paulo receberam a seguinte nota, publicada no Facebook do professor e apresentador Sergio Casoy:

Termina o programa BRAVO…

Fui repentinamente informado que o programa BRAVO, que conduzo há nove anos na Rádio Cultura de São Paulo FM, será (ex)terminado na próxima semana.

O motivo, segundo o diretor da Rádio responsável pela eliminação – um cidadão de profunda cultura musical – é que, hoje em dia, “ópera é para ser vista, não ouvida”, e, portanto, não mais se encaixa na moderna programação.

Como não me foi dada a oportunidade de gravar um programa para me despedir da grande legião de amantes do canto lírico que, dentro e fora do Brasil, acompanharam o BRAVO ao longo de seus 2.399 programas, faço uso desse meio para agradecer o carinho e a audiência dos ouvintes que estiveram conosco nestes nove anos.

A todos vocês, meu muito obrigado.

Sergio Casoy

Notas Musicais enviou um e-mail para a Cultura FM, solicitando maiores esclarecimentos sobre o encerramento do BRAVO! Caso a rádio responda, essa notícia será atualizada.

O programa ocupava, diariamente, menos de quinze minutos da programação da rádio e contava com ouvintes fiéis e entusiasmados. Eu mesma pude comprovar a reação engajada, a resposta dos ouvintes, em algumas ocasiões em que enviei sugestões ao BRAVO! Comunicador carismático, Sergio Casoy introduzia pitadas de ópera nas tardes dos paulistanos e internautas brasileiros do mundo inteiro. Não se tratava de ouvir uma ópera pelo rádio, como dá a entender a justificativa transcrita por Casoy – o programa que faz isso, na mesma rádio, é outro: Teatro de Ópera, e espero que continue no ar –, mas de tocar um curto trecho de uma ópera, uma ária, uma canção ou Lied, após a didática explicação e contextualização de Casoy, o que servia para introduzir os ouvintes no mundo do canto lírico, para formar público. Com o programa BRAVO!, o ouvinte da rádio Cultura FM aprendia que a ópera, realmente, não era para ser ouvida, mas vivida.

Caso confirmada a justificativa, ou seja, a expulsão da ópera da Cultura FM, ela vai na contramão das principais rádios do mundo dedicadas ao repertório clássico: a WQXR transmite as matinês do Met Opera e tem diversos programa sobre ópera – inclusive o famoso Aria Code; a France Musique, além de contar com um canal exclusivo para a ópera, tem programas como Samedi à l’opéra, e a ópera é abordada em vários programas de sua grade diária; a RTVE conta com participação, em sua programação, de Ramon Gener, divulgador de ópera; a RAI 3 conta com a famosa La Barcaccia, um programa diário de quase uma hora sobre ópera; a BBC3 apresenta, dentre outros, Opera on 3, com uma obra na íntegra; a BR-Klassik transmite várias óperas e recitais líricos, inclusive, recentemente, o de Bruno de Sá, nosso grande orgulho brasileiro, direto de Bayreuth; a RTE Lyric transmite óperas no programa Opera Night with Paul Herriott; a NPO Radio 4 também nos possibilita ouvir óperas na íntegra (NTR Opera Live), além de programas sobre ópera para quem entende holandês; a Radio Cultura FM (da Argentina!) tem o programa Tiempo de Ópera.

Seriam os ouvintes brasileiros menos qualificados, menos capazes de ouvir, que os americanos, franceses, espanhóis, italianos, ingleses, alemães, irlandeses, holandeses e argentinos?

Esperamos, pois, que a Rádio Cultura FM e o seu diretor, Alexandre Tondella, revejam essa decisão e possibilitem que os seus ouvintes continuem a ter uma pitada de ópera em seu dia a dia, que possam continuar a viver a ópera.

Se quiser entrar em contato com a Cultura FM, acesse o site: https://cultura.uol.com.br/radio/contato/

3 comentários

  1. O professor Sergio Casoy dedica sua vida ao amor à ópera e divide essa paixão com todos que tem a feliz oportunidade de escutá-lo.
    É uma perda irreparável e o motivo pífio e ignorante principalmente vindo de uma rádio pública que se intitula Cultura.
    Desinserir a ópera da programação cultural, explicada e contextualizada pelo professor Casoy é um erro lastimável e uma omissão na educação cultural paulista e brasileira. Quantos podem e onde assistir óperas no Brasil? Teatros sucateados e programação paupérrima…
    Com estas justificativas e esta postura o diretor da rádio cultura impede e corta das novas gerações a possibilidade de aprender e conhecer essa arte das artes, a obra de arte total como Richard Wagner postulou ( Gesamtkunstwerk ). Se a radio Cultura abandona a ópera, eu abandono a radio Cultura. Sugestão proposta!

  2. Sérgio Casoy é um dos principais conhecedores da ópera lírica brasileira. Sempre generoso em contribuir com a divulgação e conhecimento das nossas pérolas do teatro lírico, ainda pouco conhecidas pelo público em geral. Digo isto porque, me parece que a os argumentos da rádio Cultura FM para o encerramento do programa de ópera veiculado pelo professor Casoy, não consideram uma boa parte da história da ópera brasileira que as rádios proporcionaram aos ouvintes de todo o Brasil, divulgando e proporcionando o início de carreira para muitos de nossos cantores líricos e artistas, priorizando a educação cultural e a democrática da ópera. Como professora e cantora lírica, estudiosa da Rádio Gazeta-SP, gostaria de lembrar o quanto suas produções operísticas, in loco, lançaram algumas óperas no Teatro Municipal de São Paulo e o quanto de lá saíram grandes nomes para o teatro ao vivo. A convivência da saudável entre a rádio e a ópera ao vivo, são historicamente exitosas e não me parece que o momento cultural atual possa prescindir deste precioso veículo democrática para a comunicação da educação cultural possibilitando o conhecimento e a difusão deste gênero musical para a imensa parte da população brasileira.

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