“Acis, Galatea e Polifemo”, de Händel, no México

Acis, Galatea e Polifemo (1708)
Cantata dramática
Música: Georg Friedrich Händel
Libreto: Nicola Giuvo
Teatro de las Artes del Centro Nacional (Cidade do México), 24 de junho de 2023
Direção musical: Christian Gohmer
Direção cênica: Juliana Vanscoit, Fabiano Pietrosanti e Ana Bunjak
Acis: Daniela Rico, soprano
Galatea: Guadalupe Paz, mezzosoprano
Polifemo: Josué Cerón, baixo-barítono
Acis (alter ego): Ilse Orozco, bailarina
Galatea (alter ego): Paulina Espinosa, bailarina
Polifemo (alter ego): Octavio Dagnino, bailarino
Camerata Tempus Fugit

Händel estreou a sua cantata dramática Acis, Galatea e Polifemo, HWV 272, com libreto de Niccola Giuvo, em 19 de julho de 1708, em Nápoles, como parte das celebrações do casamento do Duque de Alvito. Trata-se, portanto, de uma obra comemorativa no estilo da fábula pastoral composta pelo então jovem compositor. O enredo, baseado nas Metamorfoses, de Ovídio, inclui um triângulo amoroso, que começa com o jovem casal apaixonado: Acis (um pastor) e Galatea (uma ninfa), personagens da mitologia grega, e com a subsequente aparição de Polifemo, um ciclope mal-humorado e ciumento. Aqui, Händel usou peças que depois reutilizou em sucessivas óperas, criando uma obra musicalmente marcante, que é ocasionalmente programada por casas de ópera e, especialmente, por festivais internacionais, sem mencionar um grande número de gravações.

A execução de obras barrocas, no entanto, especialmente de Händel, continua sendo uma questão pendente e uma lacuna a ser preenchida no panorama lírico mexicano, considerando que, nos últimos tempos, surgiram no país grupos, instrumentistas e cantores especializados no repertório e na execução de música historicamente informada (como a Academia de Música Antigua da UNAM (Universidade Nacional Autônoma do México), bem como a presença de instrumentistas mexicanos em todo o mundo, que tocam regularmente com importantes orquestras de música antiga). Nos últimos anos, o trabalho de oferecer obras do repertório antigo tem sido realizado por orquestras estrangeiras em turnê pelo México, sendo um exemplo as memoráveis interpretações da ópera pastoral em língua inglesa Acis and Galatea, ainda mais conhecida do que a sua contraparte napolitana, do próprio Händel, pelo Les Artes Florissants, sob a regência de William Christie, ouvida no Palacio de Bellas Artes em novembro de 1996.

Deve-se notar, portanto, que essa encenação de Acis, Galatea e Polifemo (em suas primeiras apresentações na Cidade do México, imagino, já que o programa indica que a sua estreia no país ocorreu apenas em agosto de 2019 no Teatro Llave de Orizaba, em Veracruz, uma joia como tantas em nosso país, inaugurada em 1875) é um trabalho louvável e meritório de diversos artistas mexicanos que se uniram para dar vida a essa ópera, em três apresentações realizadas no Teatro de las Artes del CENART, um espaço ideal para esse tipo de trabalho.

A encenação, simples, mas sugestiva, com poucos elementos cênicos, consistia principalmente em transmissões de vídeo e animações impressionantes projetadas no fundo do palco, e figurinos criados pelos três diretores cênicos: Juliana Vascoit, o italiano Fabio Pietrosanti e a sérvia Ana Bumjak. Os movimentos e, em geral, a atuação dos solistas, foram precisos, detalhados, fluidos e condizentes com o teatro clássico em sua sobriedade e dramaticidade, o que criou um equilíbrio entre o canto, a orquestra e a parte visual do espetáculo. No palco, uma espécie de separação dupla ou doppio sdoppiamento também foi concebida, construindo um jogo de relações entre os seres humanos, que tinham um alter ego, representado por três bailarinos que apareciam no palco ao lado de cada um dos personagens, com movimentos lentos, descontraídos, mas inovadores.

A partitura, estimulante e rica, foi bem executada, apesar de algumas pequenas imprecisões, pelos membros do grupo Camerata Tempus Fugit, reforçados por artistas de música antiga conhecidos nacionalmente, com uma boa exibição de trompetes e flautas doces. No pódio, o maestro Christian Gohmer dirigiu de forma clara e atenta à respiração da partitura handeliana. Pode-se dizer que fizeram uma apresentação convincente e com movimento.

Josué Cerón (Polifemo), Daniela Rico (Acis) e Guadalupe Paz (Galatea)

Entre as vozes, a soprano Daniela Rico se destacou por sua presença no papel de Acis. Ela é uma intérprete refinada que cantou com propriedade estilística, timbre radiante e consciência do estilo emocional e árduo de seu papel. No parte de Galatea, a mezzosoprano Guadalupe Paz cantou com uma voz escura, redonda e aveludada, encarnando uma Galatea crível. O barítono Josué Cerón, por sua vez, empregou a sua tonalidade profunda e as suas notas graves de barítono com elegância, boa projeção, dando vida a um ameaçador e atormentado Polifemo.

O resultado, satisfatório para todas as forças artísticas presentes, foi premiado com entusiasmo pelo público, numeroso e jovem.

–**–

Fotos: Carlos Alvar.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *