Em dezembro de 2021 começava o FIMA – Festival Interativo de Música e Arquitetura, evento que vem convidando o público a viver experiências imersivas que unem música e arquitetura em construções emblemáticas da cidade do Rio de Janeiro e que também já passou por Itaguaí e Mangaratiba. A primeira edição do festival chega ao fim no dia 28 de junho, em grande estilo: com um grande concerto no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. A apresentação da Orquestra Sinfônica de Barra Mansa, sob regência do maestro Anderson Alves, contará com participação dos solistas Angélica de la Riva (soprano) e Homero Velho (barítono), e a performance musical será mesclada com comentários da pesquisadora Nubia Melhem Santos e da arquiteta Noemia Barradas. A entrada é gratuita. O FIMA é patrocinado via Lei Federal de Incentivo à Cultura e este concerto também foi contemplado pelo edital Municipal em Cena.
Uma das mais importantes casas de espetáculo da América do Sul, considerada a joia mais exuberante da arquitetura eclética desenvolvida no Rio de Janeiro no início do século XX. Uma obra executada com os materiais mais nobres importados da Europa e que, em sua arte decorativa, contou com a participação dos mais importantes pintores e escultores de seu tempo. Este é o Theatro Municipal do Rio de Janeiro, cenário escolhido para a culminância do FIMA. “Por meio de projeções, convidaremos o público para uma experiência multissensorial na qual a casa é a protagonista. Será o Municipal, de fato em cena, no palco do próprio Municipal”, adianta o Diretor Artístico do FIMA, Pablo Castellar.
Em sua primeira edição, o evento desbravou locais como Real Gabinete Português de Leitura, Igreja da Antiga Sé, Sítio Burle Marx, Parque Lage, Outeiro da Glória, MAM, entre outras construções icônicas da cidade, sempre com renomados músicos brasileiros interpretando repertórios especialmente escolhidos para cada local, e grandes historiadores e arquitetos explicando ao público detalhes sobre cada edificação. Além dos concertos presenciais, o FIMA também oferece ao público um rico e inédito conteúdo nas redes: websérie, podcast e concertos on-line em formato tradicional e 360º estão na programação do FIMA DIGITAL. A edição 2022 do FIMA já está sendo preparada.
Programa do concerto dialoga com a história e o estilo arquitetônico do Theatro Municipal
Mesmo acomodados nos assentos da sala de espetáculos, o público viverá a experiência de uma visita guiada musical e visual pelos espaços do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Imagens projetadas no palco, atrás da orquestra, percorrerão os pontos mais importantes da casa, desbravando toda a sua arte decorativa, história e características arquitetônicas. O “passeio” pelo teatro terá início na entrada frontal, passando pelo foyer do balcão nobre, a sala de espetáculos e terminando no Salão Assyrio. O repertório executado pela Orquestra Sinfônica de Barra Mansa e os cantores Angelica de la Riva e Homero Velho vai dialogar diretamente com aspectos da construção, transportando o público presente para os momentos mais importantes do TMRJ desde a sua fundação. Já os comentários ficarão a cargo da pesquisadora e editora Nubia Melhem Santos, autora do livro Theatro Municipal, um século em cartaz, e da arquiteta e urbanista Noemia Barradas, que coordenou a parte técnica da obra de restauro do Theatro Municipal, de 2009 a 2012. O concerto terá, ainda, a participação especial de membros da Orquestra Jovem de Itaguaí e músicos do município que participaram das aulas e oficinas de música do FIMA nos meses de abril e maio de 2022.
O programa terá início com a apresentação do Episódio Sinfônico, de Francisco Braga. Composta em 1898, a obra levará os presentes para a virada do século XX, momento em que se empreende a grande reforma urbana e sanitária na capital federal promovida pelo prefeito Francisco Pereira Passos. Processo no qual está inserida a inauguração do TMRJ, em 14 de julho de 1909, onde este compositor regeu o concerto de abertura e apresentou uma obra sua autoria. O passeio multissensorial começará no foyer de entrada do Theatro, onde as estátuas de bronze que celebram a dança e a poesia, de Raoul Verlet, serão refletidas em uma música que ecoa a Belle Époque e o Art Nouveau, na ária Mon coeur s’ouvre à ta voix, da ópera Sansão e Dalila, de Camille Saint-Saëns, na voz de Angélica de la Riva. Dialogando musicalmente com a estátua da “Verdade”, em mármore de Carrara, de Jean Antoine Injalbert, o ideal grego de beleza se junta à dança e à poesia das estátuas de Verlet em Dança do Espíritos Abençoados, da ópera Orfeu e Eurídice, de C. W. Gluck. Uma música que evoca a dança, a poesia e a verdade absoluta do amor de Orfeu por Eurídice, uma verdade que nutre o artista na sua criação, na sua arte e no seu viver.
E nesse espírito, o programa “sobe” ao foyer do balcão nobre e se depara com o enorme painel de Eliseu Visconti. Neste momento, o espetáculo entra no universo do pontilhismo impressionista do pintor com os movimentos En bateau (Andantino) e Cortège (Moderato) da Petit Suíte, de Claude Debussy. Ali poderão ser apreciados os três grandes vitrais alemães desenhados por Feuerstein e Fugel, com suas deusas da dança, do drama e da música, ao som de Morgen!, a última das quatro canções de 4 Lieder, Op.27, de Richard Strauss, celebrando a luz do sol que penetra no teatro. O compositor esteve duas vezes no Theatro Municipal, em 1920 e em 1923, já como regente da Filarmônica de Viena. Durante a apreciação das obras de Rodolfo Bernardelli e Henrique Bernardelli, um dos mais importantes compositores brasileiros deste período será lembrado: Alberto Nepomuceno, que, ao se mudar para o Rio de Janeiro, morou na residência da família desses mesmos artistas. Dele, serão ouvidas Epitalâmio e Amo-te Muito.
Em seguida, ainda no foyer, será possível avistar o piano de Chiquinha Gonzaga. E para celebrar esta grande compositora brasileira, será apresentada a sua valsa Saudade, escrita quando do falecimento do compositor Carlos Gomes, com arranjo do compositor Paulo Aragão. Esta primeira parte do programa será finalizada lembrando dos painéis de danças de Rodolfo Almoedo nas rotundas do Theatro Municipal, com o último movimento de El Sombrero de Três Picos, de Manuel De Falla.
No momento seguinte, as projeções guiam o público para “entrar” na Sala de Espetáculos e observar aspectos da grande reforma de 1934. Serão exibidas imagens antigas comparando as alterações feitas neste período. Neste momento, será ecoado e celebrado o Modernismo e seu compositor maior, Heitor Villa-Lobos. Serão executados: o primeiro movimento, Ária (Cantilena), da Bachianas Brasileiras nº 5 para oito violoncelos, novamente com Agelica de la Riva, e, em seguida, o quarto movimento Tocata (O trenzinho do caipira), da Bachianas Brasileiras Nº 2.
Antes da experiência ganhar o Salão Assyrio, ainda em seu saguão de acesso, será possível apreciar os painéis em mosaicos do ateliê de Gian Domenico Facchina, em especial os oito quadros que representam cenas de óperas e peças famosas da dramaturgia universal. Uma delas é a cena na qual Tosca está com Scarpia e canta Vissi d’arte, na ópera de Giacomo Puccini – ária que será interpretada para o público. Já no Salão Assyrio, será proposta uma viagem no tempo pelo Oriente Médio. Primeiro, ao Egito de O Patria Mia, da ópera Aida, de Giuseppe Verdi; depois à Pérsia, com Airs de Ballet, Allegro ma non troppo, da música incidental da peça teatral Parisátide, de Camille Saint-Saens. Ali, será apresentado, ainda, o dueto para soprano e barítono Te souviens tu du lumineux voyage, da ópera Thaïs, de Jules Massenet. Encerrando a incursão, uma mensagem de amor ao Theatro Municipal com a apresentação de Lippen Schweigen, da opereta A Viúva Alegre, de Franz Lehár, que contará com a participação de jovens músicos contemplados pelas aulas de música e oficinas oferecidas pelo FIMA em Itaguaí.
PROGRAMA:
FRANCISCO BRAGA – Episódio Sinfônico
CAMILLE SAINT-SAËNS – Mon couer s’ouvre à ta voix, da ópera Sansão e Dalila
CHRISTOPH W. GLUCK – Dança dos Espíritos Abençoados
CLAUDE DEBUSSY – Petit Suíte
I. En bateau (Andantino)
II. Cortège (Moderato)
RICHARD STRAUSS – 4 Lieder, Op.27
IV. Morgen!
ALBERTO NEPOMUCENO – Amo-te Muito (orquestração: Anderson Alves)
Epitalâmio
CHIQUINHA GONZAGA – Valsa da Saudade (orquestração: Paulo Aragão)
MANUEL DE FALLA – El Sombreiro de Três Picos
V. Danza Final
– INTERVALO –
HEITOR VILLA-LOBOS – Bachianas Brasileiras nº 5
Ária (Cantilena)
HEITOR VILLA-LOBOS – Bachianas Brasileiras nº 2
IV. Toccata (O Trenzinho do Caipira)
GIACOMO PUCCINI – Vissi d’arte, da ópera Tosca
GIUSEPPE VERDI – O Patria Mia, da ópera Aida
CAMILlE SAINT-SAENS – Airs de Ballet, da peça Parisátide
I. Allegro ma non troppo
JULES MASSENET – Te Souvens Tu Du Lumineux Voyage, da ópera Thaïs
FRANZ LEHÁR – Lippen Schweigen, da opereta A Viúva Alegre
Orquestra Sinfônica de Barra Mansa
Regência: Anderson Alves
Solistas: Angélica de la Riva, soprano, e Homero Velho, barítono
Palestrantes: Nubia Melhem Santos (pesquisadora) e Noemia Barradas (arquiteta)
Local: Theatro Municipal do Rio de Janeiro
Data: 28 de junho de 2022
Horário: 20h
Ingressos: Entrada gratuita
Foto: Divulgação