Declínio do “Festival de Ópera do Theatro da Paz” se acentua

Desde que Helder Barbalho assumiu o governo paraense, qualidade do evento vem caindo drasticamente, a ponto de se tornar irrelevante.

Notícia que chega do Pará por meio do Portal Olavo Dutra, do jornalista que lhe dá o nome, informa que o Festival de Ópera do Theatro da Paz, tradicional evento lírico do norte do país, sofre com os cortes de gastos impostos pelo governo do estado. Por conta disso, a única ópera prevista para ser encenada neste ano (La Bohème, de Giacomo Puccini), não será mais apresentada, ou pelo menos não mais como previsto originalmente.

Segundo Olavo Dutra, o Festival “teve o orçamento para a temporada 2024 cortado em mais de 50%, inviabilizando as atrações já programadas”. Ainda segundo o jornalista, os preparativos para a ópera, que deveria subir à cena em agosto, começaram em maio e, em junho, “costureiras e figurinistas do festival chegaram a tirar medidas dos cantores para começar a produção”.

Como medida paliativa para não cancelar o evento de vez, La Bohème teria apenas uma apresentação e em forma de concerto. De acordo com Olavo Dutra, “alguns dos cantores solistas que foram sondados já declinaram do convite e não se sabe como será, na verdade, a apresentação”.

A verdade inquestionável é que, desde que Helder Barbalho assumiu o governo estadual do Pará em 2019 (e tendo sido reeleito para um novo mandato a partir de 2023), o Festival de Ópera do Theatro da Paz entrou em evidente declínio.

Se, em 2019, ainda houve algum esforço para mantê-lo, a partir de 2022, já no período pós-pandemia, o evento parece que desce uma ladeira sem fim: a quantidade de espetáculos foi reduzida; os títulos escolhidos são, em geral, pouco interessantes; as encenações têm sido fraquíssimas; e os elencos então, nem se fala!

Antes de 2019, quando Gilberto Chaves e Mauro Wrona dividiam a direção artística do Festival, o evento se posicionou como um dos produtores líricos mais importantes do país, chegando a rivalizar, em termos qualitativos, com teatros como o Municipal de São Paulo e o São Pedro, também de São Paulo. Títulos importantes como Salomé, Mefistofele, O Trovador, O Navio Fantasma e até Otello foram apresentados em Belém, não raro com bons elencos e boas encenações. Alguns dos maiores artistas do meio no país se apresentaram no Theatro da Paz, e, durante algum tempo, o evento até mesmo deixou o Festival Amazonas de Ópera em segundo plano (em anos em que os títulos e/ou os elencos ofertados em Manaus não eram lá muito atraentes).

Quando Barbalho assumiu o governo do estado em 2019, no entanto, e como costuma acontecer na nossa política rasteira, a ordem parece ter sido: “vamos fazer tudo ao contrário do que eles faziam”. Pois é, mas o problema é que, no que diz respeito ao Festival de Ópera do Theatro da Paz, a equipe anterior trabalhava direito, a ponto de posicionar e manter o Festival como um evento relevante.

Cumprindo muito bem essa ordem hipotética – mas bem verossímil –, a equipe atual trabalha mal, mas tão mal, que o evento se tornou exatamente o contrário do que era: irrelevante.

Some-se a isso o cancelamento da edição deste ano do Festival Amazonas de Ópera, e temos uma redução considerável de oferta de trabalho para os profissionais da área. No norte do país, a ópera praticamente se calou. É triste, mas não surpreendente: o nível médio dos políticos brasileiros é desprezível, quando não repugnante, e estranho seria esperar algo diferente.


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Foto: internet.