Divertimentos

Em São Paulo, óperas de Pergolesi abriram a temporada do Theatro São Pedro.

Theatro São Pedro, 18 de março de 2022

La Serva Padrona (1733)
Libreto: Gennaro Federico

Livietta e Tracollo (1734)
Libreto: Tommaso Mariani

Música: Giovanni Battista Pergolesi (1710-1736)

Direção Musical: Luis Otávio Santos
Direção cênica: Mauro Wrona

Serpina / Livietta: Marília Vargas
Uberto / Tracollo: Johnny França

Orquestra do Theatro São Pedro

O Theatro São Pedro, de São Paulo, abriu a sua temporada lírica 2022 no último mês de março com uma dobradinha de Giovanni Battista Pergolesi: La Serva Padrona e Livietta e Tracollo. Ambas óperas bufas, foram criadas originalmente como intermezzi: entre os séculos XVII e XVIII, era comum apresentar obras cômicas de pequeno porte entre os atos das óperas sérias (geralmente trágicas), com o objetivo de aliviar a tensão do público.

Naquela época, os libretos de modo geral ainda estavam longe, bem longe, de atingir o nível de qualidade dramática que começariam a adquirir algumas décadas depois. Os próprios compositores não eram lá muito exigentes com os seus libretistas e, quase sempre, apenas musicavam o que lhes chegava às mãos. Por vezes, davam sorte. Mozart, por exemplo, musicou grandes libretos (como aqueles escritos por Lorenzo da Ponte) e também outros bem menos qualificados.

No caso das duas comédias musicadas por Pergolesi apresentadas na casa da Barra Funda, se ainda podemos observar em La Serva Padrona traços de crítica social, Livietta e Tracollo é uma obra bastante rasa, na qual a protagonista se casa com o ladrão que quase matou o seu irmão (!?).

Em sua encenação, o diretor Mauro Wrona buscou valorizar o que ambas as obras têm de melhor – seu caráter cômico –, concentrando-se na direção de atores. Deu certo, e as duas óperas apresentaram boa fluência. A cena em que Livietta finge que morre é um bom exemplo do capricho do encenador.

Os cenários de Duda Arruk, simples e funcionais, representaram uma casa napolitana na Serva, com a sugestão do Vesúvio ao fundo, e depois um ambiente ao ar livre em Livietta. O cenário da segunda ópera foi bastante valorizado, no segundo ato, pela luz de Mirella Brandi. Os figurinos de Paula Gascon complementaram bem a produção.

Na récita do dia 18 de março, Luis Otávio Santos extraiu boa sonoridade da Orquestra do Theatro São Pedro, com atenção à dinâmica e servindo bem à ação. Felipe Venâncio (Vespone/Facenda), Naomy Schölling (Fulvia), Arthur Medeiros e Caio Bichaff (atores) cumpriram adequadamente as suas partes mudas.

A soprano Marília Vargas (Serpina/Livietta) e o barítono Johnny França (Uberto/Tracollo) demonstraram um bom entrosamento no palco. Vocalmente, França se saiu melhor, com desempenho potente e sempre expressivo, enquanto Vargas alternou momentos razoáveis com outros menos satisfatórios, em que o seu canto parecia não decolar. Faltou expressar através da sua voz a vibração da sua atuação cênica.

Cena de La Serva Padrona.

Fotos de Heloísa Bortz.

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