“Madama Butterfly” na San Francisco Opera

Madama Butterfly (1904)
Ópera em três atos
Música: Giacomo Puccini
Libreto: Luigi Illica e Giuseppe Giacosa
San Francisco Opera, 18 de junho de 2023
Direção musical: Eun Sun Kim
Direção cênica: Amon Miyamoto
Cenografia: Boris Kudlicka
Figurino: Kenzō Takada
Iluminação: Fabio Antoci
Cio-Cio-San: Karah Son, soprano
Pinkerton: Michael Fabiana, tenor
Suzuki: Hyona Kim, mezzosoprano
Sharpless: Lucas Meachem, barítono
Goro: Julius Ahn, tenor
Bonzo: Jonwon Han, baixo-barítono
Yamadori: Kidon Choi, barítono
Kate Pinkerton: Mirayla Sager, soprano
Trouble: John Charles Quimbo, ator
Orquestra e coro da San Francisco Opera

Madama Butterfly, de Giacomo Puccini, não entrou no repertório da Ópera de São Francisco em 1923, ano de fundação da companhia, mas na temporada seguinte, em 26 de setembro de 1924. Foi, contudo, incluída na temporada do centenário por ser um dos títulos mais encenados e apreciados aqui, onde foi apresentada em 38 temporadas (tal como dois títulos bem conhecidos do próprio compositor: Tosca, apresentada também em 38 temporadas, e La Bohème, em 45, ausentes nesta ocasião).

Nas inúmeras apresentações entre os anos 40 e 60, as sopranos que cantaram mais vezes o papel-título no palco de São Francisco foram Dorothy Kirstens (americana) e Licia Albanese (italiana). O que marcou uma ligação significativa com o título, no entanto, foi o fato de, a 30 de agosto de 1953, em um dos concertos de verão da companhia em um anfiteatro ao ar livre, o seu diretor musical e fundador, Gaetano Merola, ter morrido enquanto dirigia uma cena da ópera.

A presente produção transporta a cena para o ano de 1929, onde um Pinkerton convalescente e moribundo, ferido em combate de guerra, dá a Trouble, seu filho adulto, um diário de suas experiências e de seu tempo no Japão. É aí que começa a ação. O diretor japonês Amon Miyamoto procurou criar uma sequência do que aconteceu às personagens após a morte de Cio Cio San, que, no final, reconta o enredo original visto pelos olhos e imaginação de Trouble, um personagem, interpretado pelo ator John Charles Quimbo, que aparece recorrentemente em cada cena e que exprime sentimentos.

Uma ideia original, talvez inédita, mas que no palco não conseguiu se desenvolver nem alcançar o efeito totalmente convincente que o encenador deve ter concebido. E a personagem extra em cada cena, cuja presença por vezes não se enquadrava no que estava acontecendo, acrescentou uma distração. Alguns pontos válidos e atuais que a ideia de Miyamoto aborda e que devem ser mencionados são: o choque de culturas, a imposição ou a crença na superioridade de algumas raças ou valores sobre outros, ou a discriminação de uma pessoa devido à sua origem racial e étnica (não esquecendo que Trouble é um jovem rapaz meio japonês e meio americano).

Todos esses conceitos fazem parte da produção cênica concebida pela Tokyo Nikikai Opera, do Japão (em coprodução com a Royal Danish Opera, a Semperoper Dresden e a San Francisco Opera), com uma cenografia simples, mas marcante, do designer Boris Kudlicka, e figurinos elegantes do modista japonês Kenzō Takada, criador da marca de moda e de perfumes Kenzo, que imprimiu um toque japonês adequadamente simples, mas evocativo, a cada cena, com um trabalho fundamental e bem executado nas projeções de Bartek Macias, vistas no fundo do palco, e na iluminação de Fabio Antoci.

Karah Son e Michael Fabiano

Os dois artistas principais foram convincentes por seu desempenho vocal e de atuação, a começar pela protagonista, interpretada pela soprano coreana Karah Son, que soube administrar bem, em cada registro, as qualidades líricas da sua voz e, com boa projeção e cor, soube imprimir e transmitir, tanto em seu canto quanto em sua atuação, a doçura e a candura essenciais da sua jovem personagem. E o tenor Michael Fabiano, como Pinkerton, que se destaca nesse repertório, mostrou brilho e um tom fresco e dourado, com o qual cantou com sentimento e emoção, e no palco se movimentou com facilidade e liberdade.

O barítono Luchas Meachem deu autoridade e segurança vocal ao personagem Sharpless. Não há nada a criticar em um cantor como ele, embora eu preferisse que tivessem sido alterados certos maneirismos e posturas que dão um ar de insolência e malícia desnecessárias à caracterização de seu personagem. Com uma voz ampla, a jovem mezzosoprano coreana Hyona Kim teve um bom desempenho no papel de Suzuki. E tiveram bom desempenho em cada uma de suas intervenções o restante de seus compatriotas: o baixo-barítono Jonwon Han como o arrogante e mordaz Bonzo, o tenor Julius Ahn como Goro, e o barítono Kidon Choi como Yamadori, bem como a soprano Mirayla Sager em sua interpretação da jovem e da idosa Kate Pinkerton.

Como sempre, o coro do teatro, dirigido por John Keene, foi sólido e seguro, assim como a orquestra, um dos pontos fortes do teatro, sob a direção de sua regente titular Eun Sun Kim, que fez uma boa leitura da partitura, com suas melodias fluidas e tonalidades orquestrais.

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Fotos: Cory Weaver.

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