No ciclo que leva o nome da temporada da Orquestra Sinfônica Brasileira, a Série Territórios, os programas contarão com obras ligadas à origem do intérprete, ou do compositor, ou à narrativa que o autor utiliza na peça, fortalecendo a noção de pertencimento e saberes do povo. Na apresentação inaugural, dia 13 de março, na Cidade das Artes, o repertório explora algumas das produções do compositor e bandolinista Hamilton de Holanda, solista do concerto. O maestro Wagner Polistchuk assume a regência do conjunto, que conta também com obras de Camargo Guarnieri e Heitor Villa-Lobos.
Escrita em 1942 e dedicada ao americano Aaron Copland, a Abertura Concertante representa de forma exemplar o estilo geral de Camargo Guarnieri. Nela convivem tanto o apelo e o entusiasmo nacionalista – traço tão fundamental da produção do compositor – quanto o seu esmero e a a sua sofisticada concepção formal. A obra se assenta sob um esquema ABA, com desenhos rítmicos fulgurantes e uma exploração vigorosa dos instrumentos. A abertura tem início com um gingado poderoso no qual cordas, tímpano e sopros tecem um hipnotizante jogo musical. É a trompa que realiza a transição entre o bloco inicial e a comovente seção central, que se caracteriza por seu alto teor expressivo. Em seguida, o clima festivo do início retorna mais uma vez, fechando a abertura em nota enérgica.
Na Paris de 1959, Villa-Lobos escrevia aquela que seria a sua última obra orquestral: a Suíte nº 2. A opulência das sinfonias e mesmo de algumas das Bachianas não estão presentes aqui: a Suíte II é, antes, uma obra intimista, cuja engenhosidade reside mais nas transparência das texturas do que na rutilância orquestral. Com exceção do Scherzo, todos os movimentos da composição apresentam títulos de caráter nacionalista. A suíte começa em uma atmosfera sombria, com um Lamento plangente introduzido pelos violoncelos. Esse expansivo Andante Cantabile é sucedido por um Scherzo que, apesar de espirituoso e colorido, não abre mão do enternecimento. Em seguida entra em cena o Passeio, cujo conteúdo musical é terno e cativante. A Canção Lírica, movimento seguinte, impressiona pela sua graciosidade e faz um comovente uso dos sopros. Em um poderoso efeito circular, a suíte se encerra com um Poco Moderato de título Macumba, no qual o sortilégio musical retoma os ares assombrosos do primeiro movimento.
Desbravando um novo caminho dentro do repertório da música brasileira, o compositor Hamilton de Holanda escreveu em 2013 nada menos do que 24 caprichos para o bandolim de 10 cordas. A ideia para a empreitada surgiu como um desafio de criatividade, mas logo se converteu em um projeto ambicioso que ganharia o Prêmio da Música Brasileira e seria indicado ao Grammy Latino. Com influências diversas – que vão de Paganini a Pixinguinha – o compositor tinha em mente um objetivo bem definido: consorciar virtuosismo e beleza, instigando instrumentistas e proporcionando ao ouvinte uma experiência sonora de força poética. Sete dos 24 Caprichos ganharam orquestração primorosa do compositor e arranjador André Mehmari e serão apresentados ao público pela primeira vez neste concerto da OSB.
PROGRAMA
Orquestra Sinfônica Brasileira
Série Territórios
Wagner Polistchuk, regência
Hamilton de Holanda, bandolim
Camargo Guarnieri
Abertura Concertante
Heitor Villa-Lobos
Suíte nº 2 para Orquestra de Câmara
INTERVALO
Hamilton de Holanda
Caprichos para Bandolim (arranjos de André Mehmari)
SERVIÇO
Quando: 13 de março, quarta-feira, às 19:30h
Onde: Cidade das Artes | Grande Sala (Avenida das Américas, nº 5.300, Barra da Tijuca, RJ)
Ingressos: Plateia > R$ 60 (R$ 30 meia) / Frisa > R$ 60 (R$ 30 meia) / Camarote > R$ 50 (R$ 25 meia) / Galeria > R$ 30 (R$ 15 meia)
Foto: Andrea Nestrea.