A Orquestra Sinfônica do Recife (OSR) e o Aria Social serão protagonistas de um feito histórico nos próximos dias 07 e 08 de novembro, no Teatro de Santa Isabel, quando, pela primeira vez em 73 anos, uma mulher subirá ao pódio para reger o conjunto musical, num concerto com a participação do coro de jovens cantores integrantes do projeto social e de dois solistas do projeto: Rodrigo Lins e Gleyce Vieira.
A regente Rosemary Oliveira, vice-presidente do Aria Social, repetirá o feito da gaúcha Joanídia Sodré (1903-1975), a primeira regente do Brasil e da América do Sul, única mulher a reger a OSR, em concerto realizado em setembro de 1950.
Regente, musicoterapeuta, multi-instrumentista e professora de música, Rosemary manifestou interesse pela música quando começou a estudar violão aos 13 anos. Bacharel em Música e licenciada em educação musical, ela é formada em violão clássico pelo Conservatório Pernambucano de Música, é mestranda em Regência pela Universidade do Texas (EUA) e tem passagens por masterclasses na França, Áustria, Alemanha e Estados Unidos. Quando voltou dos Estados Unidos, foi convidada pela presidente do Aria Social, Cecília Brennand, a inserir e coordenar a música no Projeto Aria Social, onde atua há 19 anos. O projeto é sediado em Piedade, Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana do Recife. Ali, foi “fisgada” pela missão de incluir as crianças e jovens na sociedade por meio da música e arte.
Sob a batuta de Rosemary, a OSR executará Missa Armorial, de Capiba, as árias Se vuol ballare, Voi, che sapete e o dueto Cinque…dieci…venti…trenta, da ópera As Bodas de Fígaro, de Mozart. O coral do Aria Social, com 58 integrantes a partir de 17 anos, adiciona um componente visual especial ao concerto: enquanto cantam, os componentes executam movimentos de dança coreografados por Ana Emília Freire, e cuidadosamente escolhidos para não impactarem no desempenho vocal.
O convite para Rosemary Oliveira reger a orquestra partiu do diretor artístico e maestro titular da OSR, Lanfranco Marcelletti Jr., que se encantou com o trabalho da regente à frente do musical Capiba, pelas ruas eu vou, comemorativo aos 30 anos do Aria Social. “Ter Lanfranco Marcelletti Jr. na plateia já foi emocionante e, após o espetáculo, receber o convite para reger um concerto oficial da OSR é a realização de um sonho. Fui muito bem recebida pela orquestra e tenho muita gratidão pelo reconhecimento ao meu trabalho e pela oportunidade que a OSR abre para o Projeto Aria Social mostrar nosso trabalho”, diz Rosemary, que terá os seus irmãos e uma professora da Universidade do Texas na plateia.
O concerto é um momento ímpar na trajetória do projeto que já impactou a vida de 10 mil pessoas, entre crianças, jovens e suas famílias, transformando e profissionalizando vidas por meio da arte. “Estou muito feliz com esse convite da Orquestra Sinfônica do Recife. A ‘Missa Armorial’ é uma obra-prima do compositor pernambucano Capiba, e jamais foi apresentada de uma forma tão grandiosa com a OSR com quase 70 músicos e com 58 coristas do projeto Aria, o qual foi preparado pela própria Rosemary e coreografado por Ana Emília Freire”, diz Cecília Brennand.
“Como grupo, estamos muito felizes em receber a maestrina. Rosemary é muito competente, tem uma regência muito segura e, desde o primeiro ensaio, tudo flui perfeitamente, funcionando de maneira orgânica, com os naipes cooperando entre si. Para mim, em especial, é muito significativo pois nunca fui regida por uma mulher”, afirma a violinista Andressa D’Ávila, há 20 anos na OSR, que conta com quatro mulheres entre os seus 67 integrantes. Ela destaca a participação do coro do Aria Social. “Já na primeira música que ensaiamos, batemos palmas para eles. Como orquestra, estamos acostumados a tocar com coros profissionais, e eles chegaram aqui superafinados e bem trabalhados. Muitos vieram falar conosco sobre a emoção de se apresentarem pela primeira vez com a Orquestra Sinfônica do Recife. Mas é uma troca, uma confluência, porque para nós é um prazer muito grande recebê-los. Vai ser um concerto lindo e histórico”, completa Andressa.
O momento é especial para todos os envolvidos, como destacam Rodrigo Lins e Gleicy Vieira, os solistas do concerto. Alunos e professores do Aria Social, eles estão na fase final do curso de Bacharelado em Música/Canto na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e participam, pela primeira vez, de um concerto da OSR.
Rodrigo Lins, 27 anos, é aluno e professor do Aria Social e desde 2019, trabalha no projeto como orientador vocal, ensaiador e cantor solista. “Tem sido uma honra para mim fazer parte deste momento histórico, principalmente nessa posição. É um momento superimportante para a nossa maestrina, para o projeto e para a história da música no Recife. E para mim, muito especial também porque é a primeira vez que eu canto com uma orquestra sinfônica. Agradeço muito à Rose e ao Aria Social. Eu não estaria onde estou e nem estaria pensando como penso agora, se não fosse por ela e pelo Aria”, diz o barítono.
Gleicy Vieira, 34 anos, é aluna e trabalha no Aria há cerca de um ano, e se apaixonou pela atuação do projeto social, que possibilita o acesso à música para pessoas em situação de vulnerabilidade. “É uma grande honra e alegria, um momento marcante para a minha carreira tanto como professora, por ver o coro dando conta muito bem de tudo que preparamos, e também como solista, porque já participei de concertos com orquestras, mas é a primeira vez com a Sinfônica do Recife. Sabemos o quanto é difícil para a mulher galgar alguns espaços e ver uma mulher como Rosemary, que pega as pessoas pela mão e mostra que o sonho delas é possível, nessa posição é maravilhoso. Ela representa as mulheres de um modo geral e eu me sinto inspirada por ela”, diz a soprano Gleicy, que também foi aluna do Conservatório Pernambucano de Música.
As apresentações da OSR são gratuitas e abertas ao público, no Teatro de Santa Isabel, sempre a partir das 20h. Os ingressos já estão sendo distribuídos no site Conecta Recife e na bilheteria do Teatro.
Orquestra Sinfônica do Recife
A Orquestra Sinfônica do Recife, considerada a mais antiga do Brasil em atividade ininterrupta, foi fundada em 30 de julho de 1930, por Walter Cox, pelo compositor Ernani Braga e por Vicente Fittipaldi, seu primeiro regente. À época, denominava-se Orquestra Sinfônica de Concertos Populares, e só em 1949, quando vinculou-se à gestão municipal, passou a ter o nome atual. Em 2018, foi declarada Patrimônio Cultural Imaterial da capital pernambucana, a partir de proposição da Câmara do Recife, sancionada pelo poder público municipal. Realiza concertos regularmente, divididos em oficiais, especiais, multimídias, populares (ao ar livre) e comunitários (que proporcionam à população a oportunidade de desfrutar de música clássica em suas próprias comunidades, promovendo a inclusão e uma aproximação entre expressões eruditas e populares).
Aria Social
O Aria Espaço de Dança e Arte foi criado em 1991 pela bailarina Cecília Brennand com o objetivo de abrigar e integrar todas as artes e contribuir para sua democratização cultural. Em 2004, foi transformado em Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), tipo de instituição sem fins lucrativos, e passou a se chamar Aria Social. Com ênfase na formação completa de bailarinos-cantores, na introdução ao universo musical e ao empreendedorismo, o Aria Social produziu 16 espetáculos e já garantiu a 10 mil crianças, jovens e seus familiares acesso a oportunidades com grande potencial de transformar suas vidas.
O projeto tem como missão promover a transformação humana através da arte-educação, oferecendo formação e profissionalização em música e dança a crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social – além de apoiar as famílias desses alunos, oferecendo capacitação em técnicas de artesanato e fomentando o empreendedorismo social, por meio do projeto Casa de Maria, fundado em 2017.
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Fotos: divulgação.