Um século após a sua estreia no palco do Theatro Municipal de São Paulo, a ópera brasileira O Contractador de Diamantes retorna à casa. Terceira obra da temporada lírica e primeira de autoria nacional, nos dias 28, 29 e 30 de junho e 02 de julho, a criação do paulistano Francisco Mignone será apresentada com direção cênica de William Pereira, direção musical de Alessandro Sangiorgi, que fará a regência da Orquestra Sinfônica Municipal, e participação do Coro Lírico Municipal, sob a regência de Érica Hindrikson. Em uma coprodução com o Festival Amazonas de Ópera (FAO), essa montagem de O Contractador de Diamantes será cantada em português pela primeira vez na história.
O elenco de solistas contará com Lício Bruno, Felisberto Caldeira; Lidia Schaffer, Dona Branca Caldeira; Rosana Lamosa, Cotinha Caldeira; Giovanni Tristacci, Camacho; Douglas Hahn, Magistrado; e Mar Oliveira, Maestro Vicente. Os ingressos variam de R$ 12 a R$ 165 (inteira), com classificação indicativa não recomendada para menores de 10 anos e duração total de 180 minutos, aproximadamente, com intervalo.
A ópera O Contratador de Diamantes, de Francisco Mignone, voltou a ser apresentada no 25º Festival Amazonas de Ópera, realizado no Teatro Amazonas em 2023, após anos perdida e fora dos repertórios. A obra, composta por três atos e originalmente com libreto em italiano de Gerolamo Bottoni, se baseia no drama homônimo escrito por Affonso Arinos.
“O resgate de ‘O Contratador de Diamantes’ foi por iniciativa do maestro Luiz Fernando Malheiro, diretor do ‘Festival Amazonas de Ópera’, que coproduziu essa montagem. Sabia-se que o primeiro e o segundo atos estavam intactos, mas o terceiro havia se perdido, restando apenas uma redução para piano. A Academia Brasileira de Música incumbiu o maestro Roberto Duarte de resgatar o terceiro ato, dado o seu conhecimento em música brasileira”, explica William Pereira, encenador da montagem.
Ambientada no século XVIII, em Minas Gerais, mais especificamente na atual cidade de Diamantina, a história narra a vida de Felisberto Caldeira, o terceiro contratador de diamantes do Brasil. Caldeira é um aristocrata que possuía um contrato para a exploração de ouro e diamantes, vislumbrando a emancipação da colônia. A ópera também trabalha a relação entre a sua filha e Camacho. O cenário é inspirado na plateia da Casa da Ópera de Ouro Preto, espaço que também é um marco para a música no Brasil, construído de 1746 a 1770, sendo o mais antigo teatro do continente.
Dessa maneira, O Contractador de Diamantes trata de temas caros aos mitos nacionais, e, como uma forma de reapresentá-la ao público brasileiro, para a nova montagem foi tomada a decisão de o seu texto ser apresentado em português, algo inédito. “Existem questões históricas, pois Mignone era um jovem estudante na Itália e ‘O Contractador de Diamantes’ fazia parte de seu processo de aprendizado durante sua temporada de estudos. A ideia é criar a obra e resgatar a peça, acreditando que uma ópera com discurso nacionalista brasileiro não faria sentido em italiano. Por isso, decidiu-se repatriar essa ópera”, pontua o diretor.
A peça original, de Arinos, foi encenada no Theatro Municipal em 1919 e causou grande impacto, devido ao seu conteúdo nacionalista e pela inédita presença de artistas negros no palco do teatro. Este evento foi tão significativo que a cena da congada se destacou e se tornou um marco para a música brasileira, e, é claro, na nova montagem, ela será reapresentada ao público por artistas de dança negros.
“A congada acabou se tornando o momento mais famoso da ópera, tendo sido tocada até pela Filarmônica de Viena, regida por ninguém menos que Richard Strauss. Acredito que seja o elo mais importante para que, musicalmente falando, o nacionalismo brasileiro se faça presente nesta ópera, que musicalmente é mais ligada ao fim do século XVIII e início do XIX: as assonâncias com Puccini e Mascagni são evidentes. Evidentemente a congada traz um olhar musical para a cultura popular brasileira”, explica o maestro regente do espetáculo, Alessandro Sangiorgi.
Nesse sentido, Mignone é um importante representante do movimento conhecido como nacionalismo musical. Essa será uma oportunidade única para o público brasileiro ser reintroduzido à sua obra, a partir de novos paradigmas. O compositor buscava, por meio da música clássica, revelar a riqueza do folclore brasileiro, ao mesmo tempo em que incorporava influências de outras tradições musicais, como a italiana, por exemplo, trazendo um olhar modernista e antropofágico que é tão vocacional do Theatro Municipal de São Paulo.
PROGRAMA
O Contractador de Diamantes
[Ópera em três atos de Francisco Mignone, com libreto em italiano de Gerolamo Bottoni]
Orquestra Sinfônica Municipal
Coro Lírico Municipal
Direção musical e regência: Alessandro Sangiorgi
Regência do Coro: Érica Hindrikson
Direção Cênica: William Pereira
Cenografia: Giorgia Massetani
Iluminação: Caetano Vilela
Figurinos: Olintho Malaquias
Coreografia: Ângelo Madureira
Visagismo: Malonna
Dramaturgismo e versão em português: Ligiana Costa
Elenco:
Felisberto Caldeira: Licio Bruno
Dona Branca Caldeira: Lidia Schaffer
Cotinha Caldeira: Rosana Lamosa
Camacho: Giovanni Tristacci
Magistrado: Douglas Hahn
Maestro Vicente: Mar Oliveira
Taverneiro: Andrey Mira
Capitão Simone da Cunha: Daniel Lee
Chefe dos Mineradores: Sandro Bodilon
Dom Cambraia: David Marcondes
Sampaio: Rafael Thomas
Guias: Sérgio Sagica e Sebastião Teixeira
Moça 1: Elayne Caser
Moça 2: Ludmila de Carvalho
Moça 3: Monica Martins
Moça 4: Keila de Moraes
Moça 5: Heloisa Junqueira
Moça 6: Laryssa Alvarazi
SERVIÇO
Récitas: 28/06 (sexta) e 02/07 (terça), às 20h / 29 e 30/06, sábado e domingo, às 17h
Onde: Theatro Municipal de São Paulo
Duração: 180 minutos, aproximadamente (com intervalo)
Classificação indicativa: Não recomendado para menores de 10 anos – pode conter histórias com conteúdo violento e linguagem imprópria de nível leve
Ingressos: de R$ 12,00 a R$ 165,00 (inteira)
Foto: divulgação/Marcio James/Secretaria de Cultura e Economia Criativa (montagem original de 2023, no Teatro Amazonas).