Um prêmio à arte e à generosidade

Trago uma bela notícia para os amantes de ópera e das artes em geral. Na noite do último dia 10 de outubro, no Consulado Geral da Itália em São Paulo, Paulo Abrão Esper, diretor da Cia Ópera São Paulo, foi condecorado com o título de Cavaliere dell’Ordine della Stella d’Italia, outorgado pelo presidente italiano, Sergio Mattarella, em razão dos serviços prestados à ópera italiana no Brasil. Originalmente instituído há mais de setenta anos para recompensar estrangeiros e expatriados que tivessem colaborado com a reconstrução da Itália após a segunda grande guerra, a titulação veio a adquirir um escopo mais amplo, o que permitiu que chegasse ao mundo da ópera.

Nem é preciso escrever sobre a importância simbólica que o reconhecimento oficial de um trabalho artístico carrega. Essa simbologia se acentua ainda mais quando o condecorado é alguém como Paulo Esper, que promove uma arte genuína, sem pompa, sem verba, sem holofotes, fruto da sua paixão pela ópera e da missão que se autoimpôs de ajudar novos talentos. É essa missão que o leva a promover o Concurso Brasileiro de Canto ‘Maria Callas’, que completará 30 anos no ano que vem. É essa missão que faz com que ele proporcione, sempre que possível, masterclasses no Brasil com os maiores nomes do canto lírico mundial, muitos deles italianos. É essa missão que o leva a produzir concertos e espetáculos de ópera, sem medir esforços, para levar ao palco os cantores brasileiros.

Durante a cerimônia de condecoração, Flavia Furtado, diretora executiva do Festival Amazonas de Ópera, foi direto ao ponto: além de gostar de ópera, Paulo Esper vibra. Dessa vibração vem a força contagiante de seu trabalho.

Outro aspecto fundamental que Furtado abordou em sua certeira fala foi quanto à generosidade do condecorado, sempre preocupado em ajudar os cantores brasileiros, sempre generoso e atencioso com os amigos e com os amantes da ópera – muitos dos quais acabam se tornando seus amigos. Como bem observou Furtado, em tempos marcados pelo individualismo, não só Esper merece os parabéns, mas também o consulado italiano, pois premiou a generosidade.

Antes da condecoração, o público foi brindado com a apresentação de uma ópera (produzida, é claro, por Esper). Dessa vez, porém, não foi uma ópera italiana: em comemoração ao bicentenário da Independência do Brasil, o Consulado Geral da Itália abriu as suas portas para Domitila, composta pelo brasileiro João Guilherme Ripper a partir das cartas de Dom Pedro I à Marquesa de Santos (em recente artigo sobre outra produção, comentei um pouco a respeito da obra). No papel-título, a italiana Maria Sole Gallevi, que elegeu o Brasil como residência. Foi, pois, acima de tudo um gesto da amizade do Consulado da Itália ao povo brasileiro, à arte lírica promovida no Brasil e a um brasileiro apaixonado pela Itália que consagra sua vida à ópera.

Maria Sole Gallevi como Domitila