“Carmen” estreia no Theatro Municipal de São Paulo

Uma das obras mais celebradas da história, Carmen, ópera em quatro atos de Georges Bizet com libreto de Henri Meilhac e Ludovic Halévy, estreia no Theatro Municipal de São Paulo em uma montagem inovadora e com todo o impacto visual que o título merece. Com direção cênica do reconhecido diretor Jorge Takla (Mademoiselle Chanel, Rigoletto, La Traviata, Don Quixote), direção associada de Ronaldo Zero (Ainadamar, María de Buenos Aires) e direção musical de Roberto Minczuk, a ação cênica, nessa versão, se passa em um ateliê de alta costura no contexto da ditadura franquista espanhola. É lá que uma sequência de ações que envolvem os temas universais do ciúme, da paixão, da possessividade e do empoderamento feminino acontecem dessa vez.

Conhecida por suas cores, exuberância e pela quantidade de cantores, atores e dançarinos no palco (o elenco chega a 125 pessoas), a versão que será apresentada em sete récitas em maio (nos dias 03, 07, 08 e 10, às 20h; e nos dias 04, 05 e 11, às 17h) contará com 400 figurinos especialmente desenhados pelo estilista argentino Pablo Ramírez, sob cenários (inspirados na obra de Goya) do também argentino Nicolás Boni (La Traviata, Madama Butterfly). A obra tem duração aproximada de 180 minutos, com intervalo, e ingressos de R$ 12 a R$ 165.

Nos dias 03, 05, 08 e 11 de maio, o elenco contará com a mezzosoprano italiana Annalisa Stroppa como Carmen, com o brasileiro radicado na Itália Max Jota como Don José, com a brasileira Camila Provenzale como Micaëla, e com o barítono argentino Fabián Veloz como Escamillo. Já nos dias 04, 07 e 10 de maio, estarão no elenco a mezzosoprano moldava Lilia Istratii (Carmen), o tenor ítalo-brasileiro Giovanni Tristacci (Don José), a soprano brasileira Marly Montoni (Micaëla) e o barítono sul-africano Bongani J Kubheka (Escamillo). Além da Orquestra Sinfônica Municipal, as apresentações terão a participação do Coro Lírico Municipal (preparação de Érica Hindrikson) e do Coro Infantojuvenil da Escola Municipal de Música (preparação de Regina Kinjo).

Croquis de figurinos (Pablo Ramírez)

Muito mal compreendida em sua estreia mundial, em março de 1875, Carmen foi vanguarda pelo caráter transgressor da protagonista e pelo tom realista da obra. O sucesso chegou apenas em outubro daquele ano. Encenada em Viena, recebeu os aplausos de Brahms, Wagner, Tchaikovsky e Nietzsche. Bizet, contudo, não conseguiu presenciar tal triunfo, pois havia falecido quatro meses antes.

“O aspecto trágico e sombrio da novela de Mérimée foi atenuado no libreto da ópera de Bizet, mas a partitura traz à tona todos os recantos mais densos camuflados nessa obra. A ‘Carmen’ original se passa numa fábrica de tabaco. A mudança para um ateliê de alta costura da Espanha Franquista dos anos 1940 e 1950 nos projeta em um clima que remete à leveza de uma verdadeira ópera-comique francesa, quase parisiense, precursora das operetas. Em um dos principais cenários, vamos ter um painel imenso, de seis portas, com pinturas da escola de Francisco de Goya. Em outro, um imenso ateliê, que será um formigueiro de costureiras e bordadeiras“, explica o diretor Jorge Takla. “É tragédia e divertimento, champagne e sangue”, conclui.

Nessa versão, Carmen é uma famosa supermodelo. As motivações para essa transformação são muitas, e o diretor associado Ronaldo Zero explica: “Trazer a montagem para um ambiente relativamente contemporâneo nos faz também relacionar a Carmen, uma mulher linda e desejada, porém objetificada por Don José, a uma peça de roupa de grife que, para ele, deveria vestir somente o seu corpo”.

Posse e objetificação de corpos, portanto, trazem um viés crítico, político e atual para ser discutido à novela de paixões tão marcante presente no texto e na música, tão conhecidos e amados de todo o público. “A sensação de posse e consumo exacerbada pelo desejo do mundo moderno reflete uma busca desenfreada por validação externa e status social, muitas vezes às custas de valores mais profundos e genuínos. Don José, em sua obsessão por Carmen, ilustra os perigos desse tipo de mentalidade, na qual a posse se torna mais importante do que o amor verdadeiro e a liberdade individual”, afirma.

A força daquela que sofre um dos feminicídios mais famosos da história das óperas permanece indiscutível, e retoma a eternamente atual discussão da autonomia e liberdade da mulher. “Aqui Carmen brilha nos holofotes da indústria fashion, desafia as normas sociais e quebra barreiras”, completa Ronaldo Zero.

Croquis de figurinos (Pablo Ramírez)

“Do ponto de vista musical e vocal, é possível ver que a música é excessivamente cromática, o que retrata bem o seu caráter sensual e a sua proficiência na arte da sedução”, diz Lilia Istraati, uma das intérpretes do clássico papel de Carmen. Sobre a montagem, ela comenta: “A produção do mestre Jorge Takla é simplesmente fabulosa, e ela delineia bem o equilíbrio entre o fashion e o drama original”.

Desfilam no palco cantores e atores vestindo centenas de figurinos desenhados especialmente pelo estilista argentino Pablo Ramírez, responsável pela coleção desfilada no Teatro Colón em 2012, que deu a inspiração inicial para a parceria dele com Takla. Na ocasião, Ramírez, que o conheceu por intermédio de Nicolás Boni para uma montagem de Tosca, apresentou a sua coleção que trazia diversas “Carmens”: uma mais sofisticada, uma mais cigana, uma mais ligada ao universo de Lorca, outra mais dramática, e, assim, Takla decidiu que esse era o título que deveriam eleger para o seu projeto. Com o projeto adiado em função da pandemia, Ramírez se animou e desenhou todos os modelos inéditos.

“Jorge Takla é um diretor e produtor com tantos anos de experiência no mundo do teatro que, para mim, é uma honra e um luxo ter sido convocado por alguém como ele e de ter feito uma montagem inspirada em minha coleção. Além disso, eu, Jorge e Boni compartilhamos uma paixão e obsessão pelas minúcias e detalhes. São mais de 400 figurinos criados e realizados especialmente para essas récitas. Cada ato foi pensado para ter a sua própria paleta de cor, texturas, silhuetas e há pequenas histórias dentro da história original”, diz o figurinista.

A música de Carmen é exuberante, melódica e brilhantemente orquestrada, destacando-se pela singular fusão de cores, melodias envolventes e inesquecíveis, emoções humanas e vigor físico. Sua essência espanhola é palpável, e muito da sua fama é creditada a três árias que se tornaram verdadeiros clássicos: L’amour est un oiseau rebelle, popularmente conhecida como Habanera; a Canção do Toureador (Votre toast) e a Seguidilla (Près des remparts de Séville).


Carmen
Ópera em quatro atos de Georges Bizet, com libreto de Henri Meilhac e Ludovic Halévy

Direção musical e regência: Roberto Minczuk
Direção cênica: Jorge Takla
Direção associada: Ronaldo Zero
Regente do coro: Érica Hindrikson, regente Coro Lírico Municipal
Regente do coro infantojuvenil: Regina Kinjo
Cenografia: Nicolás Boni
Iluminação: Mirella Brandi
Figurinos: Pablo Ramírez
Coreografia: Katia Barros
Visagismo: Malonna
Assistente de direção: Thiane Lavrador

Elenco:

Dias 03, 05, 08 e 11/05
Carmen: Annalisa Stroppa, mezzosoprano
Don José: Max Jota, tenor
Micaëla: Camila Provenzale, soprano
Escamillo: Fabián Veloz, barítono

Dias 04, 07 e 10/05
Carmen: Lilia Istratii, mezzosoprano
Don José: Giovanni Tristacci, tenor
Micaëla: Marly Montoni, soprano
Escamillo: Bongani J Kubheka, barítono

Todas as datas
Frasquita: Raquel Paulin, soprano
Mercédès: Andreia Souza, mezzosoprano
Remendado: Jean William, tenor
Dancaïre: Johnny França, barítono
Moralès: Guilherme Rosa, barítono
Zuniga: Sérgio Righini, baixo
Lillas Pastia: Marcio Louzada, ator

Orquestra Sinfônica Municipal
Coro Lírico Municipal
Coro Infantojuvenil da Escola Municipal de Música


Récitas:
03 (sexta), 07 (terça), 08 (quarta) e 10 (sexta) de maio, às 20h
04 (sábado), 05 (domingo) e 11 (sábado) de maio, às 17h

Onde: Theatro Municipal de São Paulo
Duração: aproximadamente 180 minutos (com intervalo)
Classificação: não recomendado para menores de 12 anos (pode conter histórias com agressão física, insinuação de consumo de drogas e insinuação leve de sexo)
Ingressos: de R$ 12 a R$ 165 (inteira)


Foto principal: cenário de Nicolás Boni para a produção de “Carmen” no TMSP.

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