Municipal de SP apresenta “La Fanciulla del West”

Atualização/Correção: este texto foi atualizado para corrigir uma informação incorreta divulgada pelo Theatro Municipal de São Paulo, segundo a qual a presente produção da ópera “La Fanciulla del West” seria a primeira montagem brasileira da ópera. Conforme nos alertou o leitor Wilson Aguiar Filho, “La Fanciulla” foi apresentada no Theatro Municipal do Rio de Janeiro em 1932, 1947 e 1964. Consultado, o TMRJ confirmou a informação do leitor, e ainda afirmou que em tais ocasiões as produções foram nacionais, sendo encenadas aquelas de 1947 e 1964. Além desta matéria de divulgação, nossa crítica para a atual produção do TMSP também foi atualizada.

Baseada na peça The Girl of the Golden West, de David Belasco, famoso melodrama que ajudou a moldar o imaginário sobre o Velho Oeste – influenciando até o gênero western no cinema hollywoodiano – La Fanciulla Del West (A Garota do Oeste) é uma ópera do compositor italiano Giacomo Puccini, com libreto de Guelfo Civinini e Carlo Zangarini. Dividida em três atos, teve a sua estreia em 1910, na Metropolitan Opera House, em Nova York. A produção, que conta com a participação da Orquestra Sinfônica Municipal e do Coro Lírico Municipal, será encenada entre 14 e 22 de julho no Theatro Municipal de São Paulo, com duração de 170 minutos (incluindo o intervalo de 20 minutos) e ingressos de R$ 12 a R$ 158 (inteira). 

A Garota do Oeste conta a história de Minnie, proprietária de um saloon no Oeste dos Estados Unidos. Em meio à corrida do ouro, Minnie se torna o ponto central de uma trama que envolve amor, coragem e traição. Em um cenário inóspito de um campo de mineradores, no qual comparecem bandidos, trabalhadores oprimidos e um xerife cruel, uma mulher de personalidade forte vivencia questões como o amor, a saudade, a justiça e, por fim, o perdão. Sob o aspecto musical, Puccini faz uso de diversos motivos rítmicos e melódicos que remetem ao ethos local do faroeste americano, tão conhecido principalmente a partir da referência do cinema. 

A montagem conta com Roberto Minczuk na direção musical e regência, enquanto Carla Camurati, atriz, diretora de cinema e teatro, assume a direção cênica. Ronaldo Fraga é responsável pelos figurinos, trazendo uma mescla entre o estilo da época do Velho Oeste e algumas referências mais modernistas e regionais brasileiras. Renato Theobaldo é responsável pela cenografia, e Wagner Pinto e Carina Tavares assinam o design de Luz. No elenco, Martina Serafin (Minnie), Lício Bruno (Jack Rance) e Gustavo Lopez Manzitti (Dick Johnson) interpretam os principais personagens nos dias 14, 16, 19 e 22/07, enquanto Daniela Tabernig, Homero Velho e Enrique Bravo assumem as respetivas partes nos dias 15, 18 e 21/07. Tanto Martina Serafin quanto Daniela Tabernig, que farão Minnie, são solistas estrangeiras de grande renome. A primeira é natural de Viena e já se apresentou nas grandes casas de ópera da Europa, como o Teatro dell’Opera di Roma, a Royal Opera House e o Teatro alla Scala. Já a segunda, é uma solista argentina premiada como uma das cinco melhores vozes da ópera em seu país.

Um dos principais pontos da montagem é reconhecer o tamanho da influência da ópera para o cinema. Entre elas, o filme 1915, de Cecil B. DeMille, e nas versões subsequentes de Edwin Carewe, em 1923, e John Francis Dillon, em 1930. “Esse é um espetáculo muito cinematográfico. Não é trágico, é dramático. É como se Puccini estivesse fazendo um filme”, explica Carla Camurati, diretora cênica convidada.

Carla Camurati foi responsável pela direção do Theatro Municipal do Rio de Janeiro entre 2007 e 2014. Além disso, trabalhou como atriz de novela da Rede Globo de televisão até 1994 e, em seguida, dirigiu filmes, entre eles, um dos mais importantes da retomada do cinema brasileiro, Carlota Joaquina, Princesa do Brazil (1995), e Copacabana (2001). Hoje, tem sua carreira voltada para a direção de ópera, com produções como Carmen, de Georges Bizet, dentre outras. 

Para ela, o autor de Madame Butterfly cria uma obra que remete diretamente à montagem e ao ritmo próprios do cinema, que remete à sua relação pessoal com o gênero do western. “Meu pai sempre amou esse gênero ‘western spaghetti’, que me marcou muito como ‘Duelo Ao Sol’, dirigido por King Vidor e William Dieterle, e ‘Dólar Furado’, de Giorgio Ferroni. Nesse sentido, eu quero fazer um ‘western pop’, alegre, diferente do que vemos na maior parte das montagens. E tem tudo a ver com as personagens, sempre em uma energia vigorosa, sempre felizes ou raivosos”, pontua.

Essa força premonitória do que viria a ser um dos gêneros mais famosos do cinema hollywoodiano estará muito presente na produção: tanto nos figurinos de época, que irão se misturar com referências regionais, até os cenários de grande magnitude, retratando os Canyons californianos, e a estética do bang bang como saloons e as minas de ouro – estas essenciais para tratar a questão do trabalho braçal e da exploração humana na construção da sociedade.

Trata-se de uma obra influenciada pelo Verismo, uma corrente literária italiana surgida entre 1875 e 1895, baseada em um conjunto de princípios realistas. O compositor se relacionava muito bem com essa ideia de Realismo, principalmente pelo princípio de trabalhar com personagens simples, mas com questões complexas, no que ele costumava chamar de “grandes dores em pequenas almas”.

“Perdoar é uma questão, e perdoar alguém que cometeu um crime são duas questões. Puccini cria toda essa dramaturgia para que a protagonista entre nesse conflito interno, sobre o que seria a coisa certa a se fazer. E a personagem da Minnie vai trazer isso de forma apaixonante”, explica a diretora.

Do ponto de vista musical, a obra encomendada pela Metropolitan Opera, de Nova York, teve influências dos compositores Claude Debussy e Richard Strauss, sem ser de forma alguma imitativa. Um gesto de homenagem entre o libreto e a obra de Richard Wagner também é algo atestado, embora alguns atribuam isso mais ao enredo original da peça e afirmem que a ópera permanece essencialmente italiana.

“Em 1910, quando estreou em Nova York, o compositor italiano declarou que ‘La Fanciulla’ era a maior composição de toda a sua carreira. Muitos discordaram, mas, ao longo dos anos, os críticos e historiadores chegaram a reconhecê-la, de fato, como a principal obra deste compositor, devido à maestria com a qual ele compôs essa peça, à sua orquestração e à bela utilização das vozes”, comenta Roberto Minczuk, diretor musical da ópera e regente titular da Orquestra Sinfônica Municipal.

Primeira produção paulistana

A ópera La Fanciulla del West foi encenada no palco do Theatro Municipal de São Paulo apenas uma vez: em 1º de outubro de 1915, por uma companhia lírica estrangeira. Essa será a primeira produção paulistana da ópera, que foi apresentada no Theatro Municipal do Rio de Janeiro em 1914, 1932, 1947 e 1964 (com produção nacional nesses dois últimos anos citados).

Para Andrea Caruso Saturnino, diretora do Theatro Municipal, a montagem da obra será uma ocasião especial. “Às vésperas das comemorações do centenário de morte de Puccini, escolhemos apresentar ao público a obra que ele elegeu como sua criação favorita. ‘La Fanciulla del West’, com direção de Carla Camurati, terá uma boa pitada de arte pop, com os figurinos de Ronaldo Fraga e referências do Velho Oeste, transita pelo universo cinematográfico, trazendo ao público uma montagem criativa e divertida. Minnie, única personagem feminina da trama, dona de um saloon de faroeste norte-americano, onde o amor, a saudade, a traição e a paixão são os fortes motes de jogo, conduz a história nas interpretações da grande diva Martina Serafin e da talentosa Daniela Tabernig, propiciando ao público um dos grandes momentos de nossa temporada de óperas de 2023”.

Seja para os amantes do cinema, da música clássica, ou para os interessados nesse período marcante na cultura estadunidense, La Fanciulla del West já é um evento histórico pelo próprio ineditismo em São Paulo e pela oportunidade única de ver essa obra repleta de alegria, conflitos e aventura no palco do Theatro Municipal de São Paulo.

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SERVIÇO

La Fanciulla del West (A Garota do Oeste)
Ópera em três atos

Música: Giacomo Puccini
Libreto: Guelfo Civinini e Carlo Zangarini

Theatro Municipal de São Paulo

Récitas:
14 (sexta), 18 (terça), 19 (quarta) e 21 (sexta) de julho, às 20h
15 (sábado), 16 (domingo) e 22 (sábado) de julho, às 17h

Ficha Técnica:
Orquestra Sinfônica Municipal
Coro Lírico Municipal

Direção musical e regência: Roberto Minczuk
Regência do coro: Mário Zaccaro
Concepção e direção cênica: Carla Camurati
Cenografia: Renato Theobaldo
Figurinos: Ronaldo Fraga
Iluminação: Wagner Pinto e Carina Tavares

Elenco:

Dias 14, 16, 19 e 22
Minnie: Martina Serafin, soprano
Jack Rance: Lício Bruno, baixo-barítono
Dick Johnson: Gustavo Lopez Manzitti, tenor

Dias 15, 18 e 21
Minnie: Daniela Tabernig, soprano
Jack Rance: Homero Velho, barítono
Dick Johnson: Enrique Bravo, tenor

Todas as récitas
Nick: Paulo Queiroz, tenor
Ashby: Andrey Mira, baixo
Sonora: Johnny França, barítono
Trin: Eduardo Góes, tenor
Sid: Isaque Oliveira, barítono
Bello: Márcio Marangon, barítono
Harry: Fernando de Castro, tenor
Joe: Eduardo Trindade, tenor
Happy: Diógenes Gomes, barítono
Larkens: Max Costa, baixo
Billy Jackrabbit: Rafael Thomas, baixo
Wowkle: Andreia Souza, mezzosoprano
Jack Wallace: Sérgio Righini, barítono
José Castro: Marcelo Ferreira, barítono
Um postilhão: Miguel Geraldi, tenor

Duração total: 170 minutos (com intervalo de 20 minutos)
Classificação indicativa: Não recomendado para menores de 12 anos (pode conter histórias com agressão física, insinuação de consumo de drogas e insinuação leve de sexo).
Ingressos: de R$ 12,00 a R$ 158,00 (inteira)

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Foto: Stig de Lavor.