Qualidade musical de “Suor Angelica” se sobrepõe no “Trittico” do TMRJ

Sopranos Ludmilla Bauerfeldt e Eiko Senda, tenor Enrique Bravo e encenação de Pablo Maritano são os principais destaques da produção.

Il Trittico (O Tríptico), 1918
Três óperas em ato único cada uma

Música: Giacomo Puccini (1858-1924)

Il Tabarro (O Capote)
Libreto: Giuseppe Adami (1878-1946)
Base do libreto: La Houppelande, de Didier Gold (1874-1931)

Suor Angelica (Irmã Angélica)
Libreto: Giovacchino Forzano (1883-1970)
Base do libreto: uma peça de teatro do próprio libretista

Gianni Schicchi
Libreto: Giovacchino Forzano (1883-1970)
Base do libreto: Canto XXX, do Cântico do Inferno, da Divina Commedia, de Dante Alighieri (1265-1321)

Theatro Municipal do Rio de Janeiro

19 e 21 de julho de 2024

Direção musical: Carlos Vieu
Direção cênica: Pablo Maritano
Cenografia e figurinos: Desirée Bastos
Iluminação: Ana Luzia de Simoni e Hugo Mercier

Elenco principal:
Michele, barítono: Marcelo Ferreira
Giorgetta, soprano: Eiko Senda e Tatiana Carlos
Luigi, tenor: Enrique Bravo e Paulo Mandarino
Irmã Angelica, soprano: Ludmilla Bauerfeldt e Eiko Senda
Tia Princesa, mezzosoprano: Edineia de Oliveira e Mere Oliveira
Irmã Genovieffa, soprano: Carolina Morel
Gianni Schicchi, barítono: Marcelo Ferreira
Lauretta, soprano: Flávia Fernandes e Lorena Pires
Rinuccio, tenor: Guilherme Moreira

Elenco secundário: Lara Cavalcanti, Murilo Neves, Geilson Santos, João Campello, Andressa Inácio, Carla Rizzi, Noeli Mello, Katya Kazzaz, Kamille Távora, Cintia Fortunato, Helena Lopes, Fernanda Schleder, Simone Chaves, Loren Vandal, Calebe Faria, Leonardo Thieze, Ciro d’Araújo, Patrick Oliveira e Cícero Pires

Coro do Theatro Municipal
Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal

No ano em que o mundo lembra o centenário de morte de Giacomo Puccini, o Theatro Municipal do Rio de Janeiro foi ousado (para os padrões brasileiros) ao escolher os títulos com os quais também prestaria a sua homenagem ao grande compositor italiano. Nada de Tosca ou Bohème, que seriam as escolhas mais óbvias. Em seu lugar, a casa carioca resolveu apostar nas três óperas relativamente curtas que formam Il Trittico (O Tríptico): Il Tabarro (O Capote); Suor Angelica (Irmã Angélica); e Gianni Schicchi – e apresentadas juntas, em um mesmo espetáculo, como sempre desejou Puccini.

A trinca de óperas retorna ao TMRJ 29 anos depois da sua última produção na casa, mas o que mais chama a atenção nesse sentido é uma informação constante do programa de sala, em texto de Bruno Furlanetto, segundo a qual a presente montagem é apenas a quarta aparição do Trittico no Municipal do Rio nos seus 115 anos de história! É assombroso que uma obra desse gabarito, e de um compositor tão relevante, tenha sido apresentada tão poucas vezes no Rio de Janeiro.

Apesar da total independência entre os argumentos das três óperas (a primeira com libreto de Giuseppe Adami, e as outras duas saídas da pena de Giovacchino Forzano), alguns temas perpassam todas elas. O mais evidente e o mais importante desses temas é a morte: a morte de Luigi, assassinado por Michele em Il Tabarro; a morte por suicídio da personagem-título em Suor Angelica; e a morte do rico comerciante Buoso Donati como ponto de partida para a deliciosa comédia (a única escrita por Puccini) que é Gianni Schicchi.

O amor e a rejeição são mais dois temas presentes em todo o Trittico com relevância: o amor extraconjugal de Giorgetta e Luigi; o amor de mãe de Angelica pelo filho que não pôde criar; e a paixão jovial e sincera entre Rinuccio e Lauretta, filha de Schicchi. Por outro lado, temos também a rejeição que Giorgetta manifesta pelo marido, Michele (provavelmente derivada de um trauma: a perda de um filho – por motivo que não é esclarecido); e outras duas rejeições de natureza moral e preconceituosa: aquela que relega a nobre Angelica ao convento como punição por ter tido um filho fora do casamento; e aquela manifestada pela aristocracia fiorentina em relação aos novos habitantes de Firenze, provenientes do campo e representados na ópera por Schicchi e sua filha.

Grande perscrutador da alma humana, Puccini “pinta” brilhantemente em seu Trittico, portanto, três quadros diversos, mas de alguma forma interligados pelos três temas principais listados acima (a morte, o amor e a rejeição).

Em sua concepção original, as óperas do Trittico seguem um sentido cronológico inverso: Il Tabarro é um drama realista que se passa em Paris, às margens do Sena, na mesma década de 1910 em que foi composto; a trama de Suor Angelica se desenvolve em um convento italiano no século XVII; e as peripécias de Gianni Schicchi têm, inclusive, uma data exata, 1º de setembro de 1299, na Firenze de Dante Alighieri (a ópera é inspirada em uma passagem do Cântico do Inferno da Divina Comédia, a grande obra-prima de Dante).

Cena final de Suor Angelica

Encenação qualificada e com direito à polêmica

Em sua concepção para o Theatro Municipal do Rio de Janeiro, o experiente encenador argentino Pablo Maritano, que já há alguns anos vem apresentando ótimos trabalhos em cidades como São Paulo e Belo Horizonte, mas somente agora estreou no Rio, optou por ambientar as óperas em sentido cronológico normal – ao contrário, portanto, da ordem temporal original. Il Tabarro é a única que permanece mais ou menos na mesma época pensada pelos autores, a década de 1920. Suor Angelica se passa na década de 1940, e Gianni Schicchi, em 1º de setembro de 1969.

Para a ambientação, o encenador contou com os excelentes cenários de Desirée Bastos, que representam uma espécie de armazém à margem do rio Sena no Tabarro, uma sala bastante simples em Suor Angelica, e, como não poderia deixar de ser, o quarto do defunto Buoso Donati em Gianni Schicchi (quarto este de decoração propositalmente de gosto pra lá de duvidoso). Em geral, a “caixa cênica” é semelhante entre as óperas, com uma mesma base, mas itens como a parede de fundo e os adereços de cena se alternam, criando espaços bastante eficientes.

Desirée Bastos também é a responsável pelos ótimos figurinos: corretíssimos no drama inicial, adequadamente simples (à exceção daquele da Tia Princesa) na ópera intermediária, e exagerados e caricatos na comédia final (aparentemente inspirados na cultura pop das décadas de 60 e 70). Faltou, no entanto, um trabalho mais caprichado de visagismo nos personagens mais velhos, como Talpa (Tabarro), Simone e Zitta (Schicchi), que não pareciam nem um pouco idosos.

A iluminação de Ana Luzia de Simoni e Hugo Mercier funciona muito bem na maior parte do tempo, e presta contribuição relevante para a montagem, mas poderia apostar mais na escuridão tanto na cena final do Tabarro quando naquela em que Schicchi dita o falso testamento de Buoso. Aqui, estranhamente, a cena fica mais escura antes da falsificação, e mais clara no momento em que Schicchi se passa pelo defunto, restando totalmente inverossímil que ele não seja reconhecido pelo notário e pelas testemunhas.

A direção de atores de Pablo Maritano é precisa e meticulosa durante praticamente toda a encenação, como se verá adiante na descrição das performances dos solistas, e o encenador não abre mão de opções ousadas – uma delas com alto potencial de causar polêmica. No Tabarro, como a ideia foi realizar a cena em um armazém com o barco ao fundo (e não no barco), no final, em atitude extremamente cruel, Michele prende Giorgetta nesse armazém com o cadáver de Luigi. A opção, a meu ver, encontra respaldo na música.

Em Gianni Schicchi, antes mesmo de a música começar, vemos o adolescente Gherardino, filho de Gherardo e Nella, ser o responsável pela morte de Buoso ao desligar acidentalmente o aparelho médico que mantinha o moribundo vivo. No fim da mesma ópera, quando Schicchi pede ao público que lhe conceda um “atenuante”, este não são os aplausos, mas uma mulher: Zitta! Nada absurdo, uma vez que, além de reforçar a comédia, a grande animosidade entre Zitta e Schicchi poderia sugerir, por que não?, alguma relação amorosa prévia mal resolvida, ou mesmo o fato de que ambos estavam mancomunados desde o início para ludibriar os demais parentes de Buoso.

O motivo de maior polêmica, porém, certamente é a cena derradeira de Suor Angelica, na qual não ocorre o milagre da salvação da protagonista pela Virgem Maria. Ao longo da ópera, Maritano prefere mostrar Angelica como uma mulher atormentada pela violência que sofreu sete anos antes ao ser forçada a se separar do filho, e isso fica ainda mais evidente na cena entre ela e a sua tia. No lugar do milagre, na cena final é mostrado um delírio da personagem, a meu ver contrariando o espírito da obra e, especialmente, da música. É possível, no entanto, que a intenção provocativa do encenador tenha sido apontar que, em uma religião como a católica, na qual os dogmas são tão arraigados, não há espaço para exceções, e quem se suicida não pode ir para o Paraíso. Ou então, no limite, talvez expressando algum ateísmo, simplesmente mostrar que religiões não são salvação para nada, mas podem servir muito bem para ocultar aquilo que os “poderosos” – aqui representados por uma personagem sem nome, a Tia Princesa – não desejam que seja de amplo conhecimento.

Cena final de Il Tabarro

Il Tabarro – Eiko Senda e Enrique Bravo se destacam

Paulo Mandarino e Tatiana Carlos

Assisti ao Trittico nos dias 19 (sexta-feira) e 21 (domingo) de julho. Na primeira dessas récitas, Il Tabarro ficou devendo sob o aspecto musical: o barítono Marcelo Ferreira mostrou possuir um bonito timbre e interpretou um Michele correto cenicamente, mas de pouco brilho vocal, com projeção aquém do ideal. Como Giorgetta, a soprano Tatiana Carlos exibiu uma voz heterogênea, que funcionou razoavelmente bem em um ponto específico (a região média), mas que, ao se desviar desse ponto, especialmente nos agudos, enfrentou sérios problemas de afinação. O tenor Paulo Mandarino mostrou boa presença e belos agudos como Luigi, mas a sua região média restou muito pouco audível.

Já no domingo, com Marcelo Ferreira repetindo a atuação anterior, a soprano Eiko Senda entregou uma Giorgetta mais intensa, de voz homogênea e bem afinada, que soube aproveitar muito bem a sua cena com Michele (Perchè non vai a letto?). Também o tenor Enrique Bravo (Luigi) apresentou uma voz mais equilibrada em todos os registros, com médios seguros e agudos generosos. Nos trechos em que cantaram juntos, Senda e Bravo protagonizaram os melhores momentos musicais do Tabarro.

Geilson Santos, Enrique Bravo e Eiko Senda

Em ambas as récitas, a mezzosoprano Lara Cavalcanti entregou uma Frugola perfeita cenicamente e razoável sob o aspecto vocal, enquanto a voz do baixo Murilo Neves, que costuma ser problemática, até que funcionou bem na pele de um personagem idoso (Talpa). O tenor Geilson Santos foi impecável como Tinca, e o também tenor Guilherme Moreira deu boa conta do Vendedor de Canções. Interpretando o casal de amantes que aparece ao fundo do palco, Carolina Morel e João Campello exibiram os seus belos timbres.

Já na primeira ópera, começou a aparecer um dos principais problemas musicais da produção: o volume excessivo da Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal, que o regente convidado, o argentino Carlos Vieu, pareceu não saber (ou não fazer questão de) controlar. Vieu até conseguiu extrair do conjunto uma sonoridade razoável, superior à sua média recente nesse sentido (as cordas apresentaram-se muito bem no dia 19), mas o volume esteve alto o tempo todo, e, nos momentos em que a música é naturalmente mais intensa, essa falta de dosagem fez com que, por vezes, fossem encobertas até mesmo vozes que se projetam muito bem.

Eiko Senda e Coro do TMRJ em Suor Angelica

Suor Angelica – musicalmente, a melhor ópera do Trittico do TMRJ

Essa questão do volume orquestral causou bem menos problemas em Suor Angelica, a ópera intermediária do Trittico, pela própria natureza da sua música, na maior parte do tempo mais intimista, mais contida. Ainda que, em uma ou outra passagem, o volume excessivo tenha dado o ar da graça, não chegou a prejudicar nenhuma das duas récitas. Ao não atrapalharem muito, orquestra e regente já contribuíram bastante para que a ópera do meio se tornasse o principal momento musical do Trittico do Municipal do Rio.

Ludmilla Bauerfeldt

No domingo, a soprano Ludmilla Bauerfeldt deu vida a uma Angelica simplesmente perfeita. Com amplo domínio técnico e afinação precisa, a artista exibiu a sua voz privilegiada desde a primeira nota, passando pelas cenas com as demais freiras e por aquela com a sua tia, e até os momentos finais, incluindo agudos poderosos, pianíssimos delicados e uma interpretação imaculada e tocante da sua grande ária, Senza mamma. Sob o aspecto cênico, a Bauerfeldt mergulhou de cabeça na proposta do encenador de construir uma personagem atormentada, e aos poucos foi demonstrando cada vez mais essa faceta de Angelica. Para além de uma excelente cantora, estávamos todos ali diante de uma grande atriz, de uma das artistas líricas brasileiras mais completas da atualidade.

Edineia de Oliveira

Na mesma récita, a mezzosoprano Edineia de Oliveira, descontado algum desconforto na região mais aguda, interpretou muito bem a Tia Princesa da protagonista, com voz segura e sabendo aproveitar a sua bela ária, Nel silenzio di quei raccoglimenti. A artista construiu uma personagem dotada de certa crueldade sádica, e totalmente indiferente ao sofrimento da sobrinha.

Dois dias antes, a Angelica de Eiko Senda havia sido mais contida em relação àquela da Bauerfeldt. E, se a sua performance geral foi menos comovente, sua interpretação de Senza mamma soou belíssima, mesmo considerando um pequeno erro do texto no fim do verso “con un leggero scintillar di stella”. Por sua vez, a mezzosoprano Mere Oliveira exibiu uma voz um tanto “balançada”, sobretudo nos agudos. Cenicamente, foi uma Tia Princesa correta, ainda que sem a presença marcante da sua colega que cantou no domingo.

Carolina Morel

Nas duas récitas, a soprano Carolina Morel foi o principal destaque do restante do elenco, interpretando a Irmã Genovieffa, a mais ingênua e doce das freiras, com voz clara e precisa, além de uma presença cênica encantadora. A contralto Andressa Inácio encarnou uma Abadessa austera e segura vocalmente. Lara Cavalcanti, voltando ao palco como a Irmã Zeladora, ofereceu uma performance vocal mais consistente em relação à sua contribuição em Il Tabarro.

Como a Mestra das Noviças, a mezzosoprano Carla Rizzi foi correta, apesar de deixar transparecer que forçava um pouco a emissão para alcançar um timbre mais escuro. Completaram o elenco de solistas Noeli Mello (Irmã Enfermeira), Katya Kazzaz (Irmã Dolcina e Irmã Osmina), Kamille Távora (Noviça), Cintia Fortunato e Helena Lopes (Irmãs Coletoras), Fernanda Schleder e Simone Chaves (Irmãs Leigas), e Valentina Pinheiro (filho de Angelica).

O Coro do Theatro Municipal, preparado por Edvan Moraes, que já havia se mostrado bem nas suas intervenções em Il Tabarro, melhorou ainda mais em Suor Angelica, apresentando boa sonoridade (cantando no palco e fora dele) e relevante contribuição cênica.

Cena de Gianni Schicchi

Gianni Schicchi – vozes emboladas e andamento acelerado

A mais célebre das óperas do Trittico, Gianni Schicchi foi no TMRJ exatamente o oposto de Suor Angelica em termos musicais: em geral, faltou capricho, a começar por um andamento relativamente acelerado em algumas cenas, que contribuiu bastante para que as vozes dos solistas por vezes soassem emboladas e pouco claras. Some-se a isso, uma vez mais, o excesso de volume na orquestra, sem atentar para algumas das limitações dos cantores, e o resultado foi bem insatisfatório. A comédia estava lá, engraçada como tinha que ser, com todos atuando muito bem, mas as vozes…

Em primeiro plano, Marcelo Ferreira, Geilson Santos e Lorena Pires

A sexta-feira foi ligeiramente melhor que o domingo. Como o personagem-título, Marcelo Ferreira apresentou menos dificuldade aqui em comparação com o Michele de Il Tabarro, inclusive com maior desenvoltura cênica, mas ainda assim a sua voz não chegou a me convencer, e eu fiquei com a impressão de que, talvez, ele seja um cantor que possa render mais em espaços menores, com acústica mais amigável que a do TMRJ. Guilherme Moreira soube aproveitar bem a parte de Rinuccio, e cantou muito bem a ária Firenze è come un albero fiorito e o pequeno dueto Lauretta mia. Já a soprano Lorena Pires demonstrou como Lauretta uma ótima presença cênica e um material vocal bastante promissor, mas que ainda necessita de aprimoramento técnico. Sua interpretação da ária mais célebre de todo o Trittico, O mio babbino caro, passou razoável.

No domingo, além de Marcelo Ferreira (já previsto novamente como Schicchi), Guilherme Moreira também precisou repetir o seu Rinuccio, pois o tenor italiano Davide Tuscano, gripado, ainda não conseguiu cantar nenhuma récita. A soprano Flávia Fernandes assumiu a parte de Lauretta e ofereceu uma récita bem modesta, com rendimento vocal insatisfatório tanto em emissão quanto em afinação.

Com performances vocais razoáveis nas duas récitas, apresentaram-se Edineia de Oliveira (Zitta em 21/07), Murilo Neves (Simone), Loren Vandal (Nella), Geilson Santos (Gherardo), João Campello (Gherardino), Cabele Faria (Marco) e Leonardo Thieze (Betto di Signa). Menos satisfatórios, apresentaram-se Mere Oliveira (Zitta em 19/07), Fernanda Schleder (Ciesca) e Ciro d’Araújo (Maestro Spinelloccio e Messer Amantio di Nicolao). Patrick Oliveira (Pinellino) e Cícero Pires (Guccio) completaram o elenco, assim como o ator que interpretou Buoso Donati (Rhuan Santos ou Henrique Ligabue).

Saldo final do Trittico

Cena de Gianni Schicchi

À parte a conclusão polêmica de Suor Angelica, que certamente divide opiniões, tudo funciona muito bem na encenação das três óperas de Il Trittico, que, a exemplo daquela de La Traviata em novembro passado, é uma produção que se coloca como uma das melhores do Theatro Municipal do Rio de Janeiro em muito tempo. Ambas merecem ser guardadas com o devido cuidado para remontagens, ou até mesmo negociadas para circular por outros teatros brasileiros, embora seja difícil acreditar nisso, pois todos sabemos como funcionam os nossos teatros.

Musicalmente, há problemas, a começar pela direção musical, que não consegue equalizar adequadamente o volume da orquestra. A escalação dos solistas também apresenta altos e baixos, com alguns muito bem escalados e outros não. Nas partes menores, parece haver lugar apenas para aqueles que integram o coro da casa (cantem bem ou não).

Mesmo assim, entendo que o saldo final é positivo, e quem foi, ou ainda vai assistir ao Trittico certamente saiu/sairá do teatro com a sensação de ter assistido a um bom espetáculo.


Barítono protestado?

Inicialmente estava previsto que o barítono Inácio de Nonno deveria dividir com Marcelo Ferreira, em récitas alteradas, os personagens Michele e Gianni Schicchi. De Nonno, no entanto, acabou deixando a produção. Segundo informações que chegaram por meio de dois profissionais ligados à produção do TMRJ, o cantor não aprendeu a parte de Michele e, por isso, foi protestado (demitido) por iniciativa do regente Carlos Vieu. Outros dois profissionais contestam a informação, e alegam que o artista teria se retirado por motivos de saúde.

Nota do Autor: após a publicação desta resenha, a Assessoria de Imprensa do Theatro Municipal do Rio de Janeiro enviou a Notas Musicais a seguinte informação oficial, a respeito do parágrafo acima, que publicamos na íntegra:

“Em nome da Diretoria Artística do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, venho solicitar a correção da informação de que o barítono Inácio de Nonno foi demitido. O fato é que ele próprio decidiu não fazer mais parte da obra IL TRITTICO, que está sendo apresentada em nossa temporada. Em nenhum momento, o diretor artístico Eric Herrero ou qualquer integrante da diretoria artística e da assessoria de comunicação deram tal declaração, uma vez que essa informação é inverídica”.

Nota do Autor (complemento): fica aqui registrada, portanto, a posição oficial do TMRJ a respeito do afastamento do artista mencionado (barítono Inácio de Nonno) da produção de Il Trittico.

(Trecho atualizado às 14:08h de 23/07/2024)

(Trecho atualizado às 18:28h de 23/07/2024 para a inclusão de nota enviada pela Assessoria de Imprensa do TMRJ)


Mais Giacomo Puccini

E vale lembrar: está prevista para setembro, no mesmo TMRJ, a raríssima primeira ópera do compositor, Le Villi (As Willis), como o título principal da segunda edição do Festival Oficina de Ópera.


Fotos: Filipe Aguiar (na foto principal, Ludmilla Bauerfeldt como Irmã Angélica).

9 comentários

  1. Prezado Leonardo, a informação sobre o barítono Inácio de Nonno, de autoria não revelada, é falsa.
    Afirmo que o artista sentiu-se mal em um ensaio no palco, à tarde, e retirou-se. À noite entrou em contato conosco e nos comunicou o seu afastamento.
    Inácio de Nonno é um cantor que há 40 anos ocupa posição de destaque no panorama musical e merece, da parte do Theatro Municipal, toda a consideração.
    Acho importante reestabelecermos a verdade para que não se falte com o deviido respeito a tão valoroso artista.

  2. Leo Dias, muito obrigado por se abrir a escrever críticas de ópera e continuar priorizando a fofoca, mesmo após declarações oficiais sobre um cantor com 40 anos de carreira. As notícias sobre ópera ficaram muito mais interessantes e modernas, conectadas à geração Z!

  3. Notas Musicais: comentário não publicado por conter indícios de perfil fake, conforme testes realizados por Notas Musicais.

  4. Notas Musicais: comentário não publicado por conter indícios de perfil fake, conforme testes realizados por Notas Musicais.

  5. Notas Musicais: comentário não publicado por conter indícios de perfil fake, conforme testes realizados por Notas Musicais.

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