TMSP apresenta óperas de Béla Bartók e Malin Bång

O projeto da double bill O Olhar de Judith apresenta no Theatro Municipal de São Paulo o clássico A Kékszakállú Herceg Vára (O Castelo do Príncipe Barba-Azul), única ópera do compositor húngaro Béla Bartók, com libreto de Béla Balázs, e I, Volcanic (Eu, Vulcânica), ópera especialmente encomendada e estreada em 2023 à compositora Malin Bång, com libreto de Mara Lee, ambas suecas, que reescreve a história do ponto de vista da personagem Judith, a partir de uma reflexão sobre relacionamentos tóxicos.

As obras são uma coprodução internacional com o Muziektheater Transparant (Bélgica) e com a Folkoperan (Estocolmo), e conta com direção cênica e concepção do belga Wouter Van Looy. No TMSP, a direção musical será de Roberto Minczuk, e haverá um total de quatro récitas, entre 26 e 30 de julho (detalhes abaixo).

O Castelo do Barba-Azul traz o baixo-barítono Hernán Iturralde como Barba-Azul e a mezzosoprano Denise de Freitas como Judith. A partir da famosa fábula, que aparece pela primeira vez nos Contos da Mamãe Gansa, de Charles Perrault, no século 17, a ópera escrita em 1911 apresenta apenas dois personagens: Barba-Azul, um nobre misterioso, e Judith, sua nova esposa. A ópera começa com a chegada do casal ao castelo. Eventualmente, Judith solicita que as portas da residência sejam abertas, em uma trama angustiante e psicológica.

“Nas últimas décadas, Barba-Azul estava no programa de muitas casas de ópera, mas, como é uma ópera de 60 minutos, os diretores procuram outra peça para combinar e preencher a noite. Isso frequentemente leva a concepções dramatúrgicas às vezes intrigantes, mas também forçadas, para colar peças que não combinam juntas. Por essa razão, quis criar uma ópera escrita exatamente para dialogar com a icônica obra-prima de Béla Bartók e Béla Balázs”, explica o encenador Wouter Van Looy.

A segunda obra da noite, Eu, Vulcânica, tem as sopranos Alexandra Büchel como Judith e Laiana Oliveira como Darkness 1. Trazendo um olhar da protagonista feminina e de suas questões para o centro da trama, a ópera narra uma Judith que não quer mais abrir as portas do castelo de Barba-Azul. Viajando ao subconsciente ou ao seu próprio castelo, Judith encontra os seus medos e desejos, em uma obra focada na subjetividade dessa personagem que viveu à sombra e à escuridão do marido.

“Barba-Azul é uma ópera sobre um relacionamento fatal entre um homem e uma mulher, escrita por dois homens no início do século XX. Eu queria saber a resposta de duas artistas femininas do século XXI para esse drama de relacionamento. Duas artistas maravilhosas aceitaram o desafio, a compositora sueca Malin Bång e a autora sueca-coreana Mara Lee”, explica o diretor.

“Embora contemos a história do ponto de vista de Judith, eu diria que ela oferece uma perspectiva humana sobre como podemos nos levantar e nos reconstruir após sermos destruídos em um relacionamento tóxico. É também um apelo para aceitar a fluidez da vida, como descrito pelo filósofo Zygmunt Bauman. Mara Lee usa a metáfora do horizonte. Onde Judith tinha um horizonte fixo (Barba-Azul), ela aceita no final de “Eu, Vulcânica” a fluidez do horizonte. Um horizonte com curvas”, ele conclui.

Do ponto de vista musical, a composição de O Castelo do Barba-Azul é marcada pelas mudanças constantes de tensão e atmosfera. Cada porta que é aberta sugere um ambiente musical, que desafia o trabalho da orquestra em acompanhar uma coloração tão distinta e complexa.

Na música original de Malin Bång composta para Eu, Vulcânica, o público poderá conhecer a história de Judith contada por outra perspectiva musical. A música é uma exploração de movimento e energia. Ela define o seu material musical de acordo com a quantidade de fricção para criar um espectro de ações imprevisíveis e contrastantes, variando do íntimo e pouco audível ao áspero e obstinado.

Esse trabalho só foi possível, como pontua a superintendente geral do Complexo Theatro Municipal, Andrea Caruso Saturnino, a partir de um esforço de criação e integração de diferentes casas de ópera: a Muziektheater Transparant, da Bélgica, a Folkoperan, de Estocolmo, e o Theatro Municipal de São Paulo. “Essa coprodução é uma prova de como a relação entre casas e artistas podem resultar em uma obra nova e fascinante na história da ópera mundial”, finaliza.


O Olhar de Judith

A Kékszakállú Herceg Vára (O Castelo do Príncipe Barba-Azul)
Ópera de Béla Bartók com libreto de Béla Balázs
Editora Universal Edition AG

Elenco:
Barba-Azul: Hernán Iturralde, baixo-barítono
Judith: Denise de Freitas, mezzosoprano 

INTERVALO (20’)

I, Volcanic (Eu, Vulcânica)
Ópera de Malin Bång com libreto de Mara Lee

Elenco:
Judith: Alexandra Büchel, soprano
Darkness 1: Laiana Oliveira, soprano
Darkness 2: Flavio Mello, barítono

Orquestra Sinfônica Municipal

Direção musical: Roberto Minczuk
Direção cênica: Wouter Van Looy
Cenografia: Carl Bellens e Wouter Van Looy
Figurinos: Laura Françozo
Iluminação: Aline Santini
Vídeo: Raimo Benedetti


Récitas: 26 e 30 de julho, às 20h / 27 e 28 de julho, às 17h
Onde: Theatro Municipal de São Paulo
Duração aproximada: 130 minutos (com intervalo)
Classificação indicativa: não recomendado para menores de 12 anos
Ingressos: de R$ 31,00 a R$ 200,00


Foto: Mats Backer (cena de “Eu, Vulcânica”).

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *