”Les Fables de la Fontaine”: novo lançamento de La Chapelle Harmonique

Compositores: Louis-Nicolas Clérambault, François Couperin, Etienne Moulinié, Louis de Caix d’Hervelois, Gabriel Bataille, Michel Lamber, Jean-Baptiste Lully, Antoine Boësset.
Solistas: Marie-Claude Chappuis, mezzosoprano; Thierry Peteau, ator.
La Chapelle Harmonique: Geneviève Pungier (flautim); Benjamin Narvey (teorba); Bérengère Sardin (harpa); Valentin Tournet (viola e direcção).
Gravadora: B Records.
CD gravado ao vivo em outubro de 2021 / Duração: 69 minutos

Lançada no final de 2022 pelo selo B records, esta nova e atraente gravação com música do repertório barroco francês foi realizada pelo ensemble especializado La Chapelle Harmonique. Fundada em 2017, e sob a liderança do seu fundador, o jovem gambista Valentin Tournet, pela variedade e originalidade na escolha dos seus programas, que inclui a execução de grandes óperas francesas como Les Indes Galantes, de Rameau, o conjunto já se afirmou entre os excelentes grupos franceses de instrumentos antigos. O disco intitulado Les Fables de la Fontaine (As Fábulas de La Fontaine) é baseado na obra do escritor e poeta francês Jean de la Fontaine (que consiste em uma compilação de duzentas e quarenta e três fábulas, escritas em forma de poema entre 1668 e 1679, cujas personagens principais são animais com características humanas, e que terminam com uma moral). Cinquenta anos depois de terem sido escritas, e após a morte do poeta, o compositor Louis-Nicolas Clérambault (1676-1749), organista e membro da corte real, musicou as fábulas, mantendo ao máximo o seu espírito cômico e moralizante.

A Chapelle Harmonique utilizou várias dessas peças cômicas e, para além das fábulas lidas e cantadas por Clérambault, incluiu: Airs de cour (a forma predominante de composição vocal secular na França durante o reinado de Luís XIII) de compositores como Michel Lambert (1610-1696) e Antoine Boësset (1587-1643); bem como Chansons à boire (canções de beber, de carácter alegre e festivo) de compositores como Gabriel Bataille (1574-1630) e Etienne Moulinié (1599-1676); além de árias de Louis de Caix d’Hervelois (1677-1759), do célebre Jean-Baptiste Lully (1632-1687), criador da tragédia lírica e da ópera na França, e de François Couperin (1668-1733), de quem foram emprestadas as partes musicais.

Tournet concebeu este autêntico entretenimento com as fábulas recitadas e lidas, com a graça e o bom estilo do cantor e ator Thierry Peteau, e com as partes vocais cantadas pela mezzosoprano suíça Marie-Claude Chappuis, que exibiu musicalidade, um som puro e cristalino, e sobretudo atenção ao texto cantado e à expressividade, criando um espetáculo que navega entre a recitação, o canto e as obras instrumentais, mergulhando-nos na poesia e na atmosfera imaginária dos jardins de Versalhes.

A estrutura da obra é fluida, com as partes instrumentais executadas por um pequeno conjunto de câmara com apenas quatro instrumentos (viola da gamba, teorba, harpa e flauta transversal), criando uma atmosfera e um enquadramento musical de poesia sutil, agradável para a declamação, para o canto de cada peça e para o ouvinte; com destaque às notáveis e importantes intervenções de Geneviève Pungier na flauta transversal, e às cordas da viola da gamba do próprio Valentin Tournet.

As peças estão dispostas em uma ordem em que a fábula recitada é seguida da cantada, e são entrelaçadas com árias e canções dos outros compositores, algumas com temas semelhantes aos das fábulas.

A obra foi realizada para comemorar os quatrocentos anos do nascimento de La Fontaine, e as apresentações aconteceram em várias cidades da França. A gravação deste álbum foi realizada no concerto de 06 de outubro de 2021, na sala L’Estren, na cidade de Guidel, na região da Bretanha.

A gravação ao vivo, em que apenas se ouvem os aplausos do público no final, reforça o carácter teatral, lúdico e espontâneo de cada peça executada. O concerto termina suavemente com a ária de Lambert, Charmante nuit, na voz de Marie-Claude Chappuis, que começa a cappella e depois é sutilmente acompanhada pela teorba e pela harpa, criando um momento comovente, que se repete também em várias das trinta e três peças contidas no CD, como Goûtons un doux repos, do próprio Lambert.

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