Theatro Municipal de SP apresenta “O Navio Fantasma”

Em grande produção, Der Fliegende Holländer (O Holandês Errante – popularmente conhecida como O Navio Fantasma), ópera em três atos com música e libreto de Richard Wagner, recebe uma nova montagem no Theatro Municipal de São Paulo, em uma bela mistura entre o enredo (que vai do realismo à ficção fantástica) e a inspiração nas graphic novels e na Escandinávia do século XX (em sua concepção visual). No palco, a tecnologia multimídia das projeções ajudarão a contar a história do marinheiro amaldiçoado. Com direção cênica do argentino Pablo Maritano, responsável pela montagem de Der Rosenkavalier no TMSP em 2022, a ópera terá direção musical de Roberto Minczuk, com a Orquestra Sinfônica Municipal, o Coro Lírico Municipal (preparado por Mário Zaccaro) e Desirée Bastos na cenografia e figurinos.

Com dois elencos, nos dias 17, 19, 22 e 25 de novembro as apresentações incluem os solistas Hernán Iturralde no papel do Holandês; Carla Filipcic como Senta; e Kristian Benedikt interpretando Erik. Já nos dias 18, 21 e 24, as récitas contarão com Rodrigo Esteves como o Holandês; Eiko Senda na parte de Senta; e Ewandro Stenzowski como Erik. Em todas as datas, Luiz-Ottavio Faria será o intérprete de Daland; Giovanni Tristacci fará a parte do Timoneiro; e Regina Mesquita interpretará Mary. A apresentação tem uma duração total aproximada de 140 minutos, sem intervalo. Os ingressos variam de R$ 12 a R$ 158 (inteira).

Rodrigo Esteves, Eiko Senda e Luiz-Ottavio Faria (Foto: Stig de Lavor)

A ópera O Navio Fantasma se passa em uma aldeia pesqueira na Noruega, e conta a história de um navegador holandês que é amaldiçoado por blasfemar contra Deus: ele é condenado a vagar pelo mar eternamente, a menos que encontre uma mulher que lhe dedique o amor eterno. Ao chegar a um porto, o holandês oferece uma fortuna em ouro e joias a Daland, outro navegador, em troca da mão de sua filha, Senta. A garota já conhecia a lenda do marinheiro amaldiçoado, mas é cortejada por Erik, um caçador, que fica enciumado toda vez que ela faz referência ao holandês, seja admirando seu retrato ou cantando a famosa Balada do Holandês.

Em sua autobiografia, Mein Leben (Minha Vida), lançada em 1839, Wagner conta que, pela Noruega em uma viagem de navio com sua esposa, a atriz Wilhelmina Planner, motivada por uma fuga do compositor por conta de um grande acúmulo de dívidas, ambos enfrentaram uma tempestade a bordo, remetendo o alemão à lenda do navegador amaldiçoado. Anos depois, ele admitiu que conheceu essa história através da versão do poeta alemão Heinrich Heine. De toda maneira, O Navio Fantasma foi para Wagner uma obra divisora de águas em sua carreira. “A partir de agora se inicia minha carreira como poeta, dou adeus à mera posição de construtor de textos para ópera”, escreveu no texto Eine Mitteilung an meine Freunde (Uma mensagem para meus amigos), em 1851.

É entendendo a importância desta ópera para o compositor, e para a música ocidental como um todo, que Pablo Maritano, diretor cênico, explica o mote da produção: “Foi, como disse Ernst Bloch, com o ‘Fliegende Holländer’ que ‘Wagner se descobriu a si mesmo’. A jornada do holandês marca o início da jornada wagneriana na criação operística”, pontua.

Essa nova fase do compositor é expressa em certas inovações: ele utiliza o recurso do leitmotiv, temas musicais fragmentados, que transportam a narrativa dramática com a sua carga identitária. Às vezes são personagens, às vezes são ideias, às vezes objetos. Por outro lado, temos o mar, que, embora não tenha motivo musical, é o enquadramento de toda a obra, permeando-a com a sua hostilidade ameaçadora.

Pablo Maritano (divulgação)

“É também a apresentação do tema do marginalizado: tanto o Holandês, cujo nome sequer sabemos, quanto Senta são duas pessoas completamente incompreendidas”, explica Maritano. Pessoas que vão viver as suas dificuldades até encontrarem a redenção em uma causa extremamente nobre: o amor.

Para Desirée Bastos, figurinista e cenógrafa, a produção terá um tom que contrasta a dureza e realismo do mundo comum com o tom “sobrenatural” do holandês. “A ideia da realidade fantástica se inicia com a chegada do holandês. Ele é o elemento que vai trazer essa magia para o espaço. A ideia de trabalhar com figurino mais realista é que, quando testemunham a chegada desse holandês, acontece um contraste, e no palco todo o universo das projeções (que vão ter inspiração no universo das graphic novels)”, explica.

Dessa forma, a concepção da nova montagem optou por se ancorar em um tempo intermediário entre o período em que a obra foi composta e os nossos dias, tendo como enfoque referências do século XX. Em contraste com a natureza fantástica da história, os figurinos têm formas mais secas, utilizando muitas sobreposições de peças, que darão a ideia do inverno, remetendo ao lugar de onde vem a lenda.

Segundo Andrea Saturnino, diretora do Theatro Municipal de São Paulo, o encerramento da temporada representa a conclusão grandiosa de mais um ano de exitosa temporada lírica. “Foi um ano marcado pela diversidade, tivemos uma ópera brasileira inédita, quatro das oito produções de óperas foram dirigidas por mulheres, incluindo as óperas ‘Fora da Caixa’ e ainda fizemos uma versão histórica de ‘O Guarani’ com concepção do Ailton Krenak”, relembra.

Foi na temporada de 1957 que o público de São Paulo viu pela primeira vez O Navio Fantasma. A ópera estreou no TMSP em 17 de agosto daquele ano, com a Companhia de Ópera Alemã, Orquestra Sinfônica Municipal e Coros Municipais, sob a regência do maestro Alexander Krannhals. De lá para cá, houve somente outras duas montagens, em 1977 e 1984.

“Optamos por encerrar com um clássico adorado. Wagner é um músico que faz parte do Theatro Municipal de São Paulo desde sua arquitetura: aqueles que sobem as escadarias para a Sala de Espetáculos podem ver dois painéis representando cenas da mitologia nórdica que fazem alusão às óperas do compositor alemão”, finaliza a diretora. Entre novas obras e montagens de trabalhos essenciais, o Municipal dá continuidade ao seu objetivo de trazer a música operística para um dos principais palcos do Brasil, uma oportunidade única de rever ou até mesmo conhecer um clássico em sua melhor forma.

montagem com Hernán Iturralde (divulgação), Carla Filipcic (Patricio Remotti) e Kristian Benedikt (divulgação).

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SERVIÇO

Der Fliegende Holländer (O Holandês Errante / O Navio Fantasma)
Ópera em três atos

Música e libreto: Richard Wagner

Theatro Municipal de São Paulo

Récitas:
17 (sexta), 21 (terça), 22 (quarta) e 23 (sexta) de novembro, às 20h
18 (sábado), 19 (domingo) e 25 (sábado) de novembro, às 17h

Ficha Técnica:
Orquestra Sinfônica Municipal
Coro Lírico Municipal

Direção musical e regência: Roberto Minczuk
Regência do coro: Mário Zaccaro
Concepção e direção cênica: Pablo Maritano
Cenografia e figurinos: Desirée Bastos
Iluminação: Aline Santini

Elenco:

Dias 17, 19, 22 e 25
Holandês: Hernán Iturralde, baixo-barítono
Senta: Carla Filipcic, soprano
Erik: Kristian Benedikt, tenor

Dias 18, 21 e 24
Holandês: Rodrigo Esteves, barítono
Senta: Eiko Senda, soprano
Erik: Ewandro Stenzowski, tenor

Todas as récitas
Daland: Luiz-Ottavio Faria, baixo
Timoneiro: Giovanni Tristacci, tenor
Mary: Regina Mesquita, mezzosoprano

Duração total: 140 minutos (sem intervalo)
Classificação indicativa: não recomendado para menores de 12 anos (pode conter histórias com agressão física, insinuação de consumo de drogas e insinuação leve de sexo)
Ingressos: de R$ 12,00 a R$ 158,00 (inteira)

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Foto principal: Stig de Lavor.

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