OSB celebra a música da Itália na Cidade das Artes

Seria uma tarefa árdua – se não impossível – pensar na tradição musical do Ocidente sem considerar o papel fundamental que a Itália desempenhou e desempenha ao longo dos séculos. Berço da ópera, do bel canto e de inúmeros compositores e intérpretes destacados, o país é o grande homenageado no próximo concerto da Série Mundo da Orquestra Sinfônica Brasileira. A apresentação, que será realizada no dia 17 de abril, no palco da Grande Sala da Cidade das Artes, traz obras de Busoni, Boito, Puccini e Respighi sob regência de Ira Levin, além da participação da soprano Eliane Coelho.

Reconhecido como um dos maiores pianistas de sua geração, Ferruccio Busoni (1866-1924) foi também um compositor ambicioso e um dos grandes pensadores da música no século XX. Seu interesse pela expressividade polifônica da música de Johann Sebastian Bach se manifestou cedo, ainda na infância, e ao longo da vida o italiano transcreveu para piano inúmeras peças do mestre barroco. Seu maior tributo ao alemão, porém, talvez seja a poderosa e arquitetônica Fantasia Contrapontística, seu magnum opus, escrito em 1910. A obra traz no seu cerne o Contrapunctus 14 (deixada incompleta) da Arte da Fuga, que é trabalhado, expandido e reimaginado por Busoni à luz das tendências musicais modernas. Emocionante e intelectualmente instigante, a composição será ouvida neste concerto em transcrição orquestral do maestro Ira Levin, 100 anos após a morte do compositor.

Eliane Coelho (divulgação)

Uma homenagem musical à Itália não seria completa se não abarcasse o universo operístico: para a parte central do programa, a OSB recebe a destacada soprano Eliane Coelho, que interpreta duas árias célebres. A primeira delas é a trágica L’altra notte in fondo al mare, da ópera Mefistofele, de Arrigo Boito (1842-1918), na qual a personagem Margherita canta o seu desalento enquanto aguarda o seu trágico destino. Na sequência, Signore, ascolta!, de Turandot, de Giacomo Puccini (1858-1924), que evoca a intensidade e a paixão de uma história épica de amor e desafio. Em seguida, a orquestra apresenta o Intermezzo do 3º ato de Manon Lescaut, também de Puccini, que, embora breve, encapsula o clima geral da ópera, com passagens de sombrio desespero e de tranquilidade melancólica. Para encerrar este bloco emocionante, Eliane Coelho canta Tu tu, piccolo iddio, um dos momentos de maior carga emocional da da ópera Madama Butterfly, sempre de Puccini – compositor cuja morte, assim como a de Busoni, completa 100 anos em 2024.

O concerto chega ao fim com o Festival Romano, de Ottorino Respighi (1879-1936). O estonteante poema sinfônico – o último de um tríptico dedicado à Cidade Eterna – foi escrito entre 1926 e 1928, e traduz em música uma sequência de cenas do passado italiano. O próprio compositor assinou o prefácio da partitura, indicando o caráter evocativo de cada um dos movimentos. Em Circenses, uma fanfarra vertiginosa dos metais lança o ouvinte em meio a um combate injusto entre mártires e feras. Ao tema sombrio das vítimas e ao rugido feroz dos animais se soma o clangor da multidão, o que dá ao movimento um vigoroso efeito total. O Jubileu, em contraste, explora a dura  jornada dos peregrinos medievais em direção a Roma. Conforme os viajantes se aproximam da cidade, a instrumentação ganha cores e texturas especiais, com metais, madeiras e percussão recriando o repique dos sinos. Em O Festival de Outubro, danças, serenatas e canções de amor indicam que é tempo de celebrar a colheita. O gran finale do poema sinfônico é Epifania, que retrata as algazarras e a aglomeração do povo antes da “Festa da Befana”. Uma riqueza espantosa de temas e motivos populares se intercruzam em uma tapeçaria sonora de apelo cinematográfico, concluindo a obra em chave de ouro. 


Orquestra Sinfônica Brasileira

Série Mundo – Itália

Ira Levin, gerente
Eliane Coelho, soprano

Ferruccio Busoni
Fantasia contrapontística
– Preludio corale
– Fuga I
– Fuga II
– Fuga III
– Intermezzo
– Variazione I
– Variazione II
– Variazione III
– Cadenza
– Fuga IV
– Corale
– Stretta

Arrigo Boito
Mefistofele – L’altra notte in fondo al mare

Giacomo Puccini
Turandot – Signore, ascolta!
Manon Lescaut – Intermezzo do 3º ato
Madama Butterfly – Tu, tu, piccolo iddio

INTERVALO

Ottorino Respighi
Festival Romano


Quando: 17 de abril, quarta-feira, às 19:30h
Onde: Cidade das Artes | Grande Sala (Avenida das Américas, nº 5.300, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro)
Ingressos: Frisa e Plateia > R$ 60 (R$ 30 meia) / Camarote > R$ 50 (R$ 25 meia) / Galeria > R$ 30 (R$ 15 meia)


Foto principal: Marina Andrade.

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